ZÉJEL N°05 (LUCINA)
ZÉJEL N°05 (LUCINA)
Sou a amante de Macário,
O anjo lascivo de negro sudário,
Com o seio desnudo, um tecido macaio;
O corpo fremente,
E a carne bem quente,
Minh’alma cativa, lugente,
Um desejo em meu peito latente;
Em meus lábios o sabor de menina;
Apenas Lucina…
Sobre meu templo frio que ilumina,
Poetas e poetisas a sua verdadeira sina;
Lúbrica a esperar-lhes, na sede de um querer.
(Anderson Delano Ribeiro – 2005)
(Foto de Cottonbro Studio no Pexels)
ZÉJEL N°03 (A VIRGEM DA NOITE)
ZÉJEL N°03 (A VIRGEM DA NOITE)
Vens nos meus sonhos com teu alvo sudário sem cor,
Tens o dom dos anjos, balsamo empírico de flor,
Vens à noite rósea clara, d’esperança que eu morra de amor,
Faz do céu tua morada e das estrelas tua escada;
Desces a mim, e faz do mar tua estrada,
E em meu peito, cravas o medo em forma de espada,
Sorri, teu sudário pira sobre a desnuda espádua,
E sangrando, nas brumas pranteio;
Peço-te misericordiosamente esteio,
E tu, contrita, afaga-me dentre formosos seios,
E minh’alma orvalha d’esperança, no anseio.
De que a morte venha, e eu desperte deste inefável devaneio.
(Anderson Delano Ribeiro – Meados de 2005)
(Foto de Carolina Basi no Pexels)
ZÉJEL N°10 (PÁSSARO MULHER)
ZÉJEL N°10 (PÁSSARO MULHER)
Pássaro mulher, suas véstias de linho,
Boca cândida, doce fruto, ardente vinho;
Sua espádua é sol dos montes, meu ninho;
Amanheces em minh’alma com ternura,
Com a esperança de doce ventura…
Em trevas, os pomos transluzem a clausura,
Duas luas aureoladas por róseas flores, tortura!
Intangível, como tocar-te místico pássaro ou miragem?
Em meu sono profundo faz passagem,
Ver tão límpida a voar, vagando, mera paisagem;
Sorrindo a cantar e o meu peito a calar, a mensagem
Voa, e o anjo se vai; castigo por amar, partirei sozinho…
(Anderson Delano Ribeiro – Meados de 2005)