O CIRCO
O CIRCO
O palhaço se faz num sorriso,
Mas há que o seu riso encontrar paraíso?
– Eu busco, eu busco, e só vejo chão…
Rodando, pulando, cambaleando ao chão!
O circo, circula o globo da morte,
– Quem sabe com sorte
Descubro o meu ser…
Correndo, subindo e descendo,
Quiçá, um dia há de ser!
Seguindo o estirão,
Seguindo a canção:
“Passa reto, passa mato,
Passa sobre mim…
Sob o céu tamanho encanto
desfaz-se num jardim…”
E o circo então levanta as cortinas!
– O show segue a rima
e os risos diários…
Ah, rouba o tempo, rotina tardia!
– Onde estão minhas filhas?
Onde estão meus sorrisos?
Onde na estrada perdi
meu encanto?
Pobre, o palhaço se desfaz,
A festa é mecânica, o riso também!
Inquieto, tomado por tamanho sentir,
Um curto circuito e param-se as máquinas!
No furo da lona havia uma estrela,
A lua serena se viu refletida naquele olhar,
– Quanto tempo não tinha
tempo para olhar o céu…
A vida despencou quão uma gota,
No peito floresceu liberdade…
Não há agua que lave este rosto!
Não há breu que exale mais paz!
(Anderson Delano Ribeiro – 2007)
(Foto de Jair Hernandez no Pexels)
A MUSA MORTA
A MUSA MORTA
Dos seios moços da insanidade
Eu vislumbrei a verdade do sentir,
E eram tão belos, que intumescidos,
talvez, seriam pomos interlunares…
Quão cálices de branca flor,
Um roseiral de espinhos em mãos,
e sépalas doces e mádidas da noite.
Eia e furiosa de sabores e sentidos,
perdido em dissabores,
Dentre o caule torácico deste ser…
As névoas e gemidos canoros,
Dardejam o tamis véu, desaguando
costas e costelas abaixo!
Casto e dormente corpo
desnudo trafega em Orbi Mortem,
Negras mechas esvoaçantes
são o sudário do arcanjo-mulher,
Não, não clame por Lilith, Pandora,
ou mesmo Annie Marrie…
Eiva lasciva os alabastros das urbes,
com um riso tênue, um olhar distante,
Fenece às preces idílicas, maculadas;
A malva mulher, frente aos elos,
lôbrega, tácita… Percorre os dedos
bailarinos, numa trilha ao templo…
O templo-caixa, novamente sorri…
Sibilante, sorri… Dentre as brumas,
Despida em mármore branco,
No alvorecer do inverno estiolante,
O corpo de moça febril, de tórax lapidado,
dorso esguio, percorre as vias dele mesmo;
Ouve-se passos, ouve-se sinos,
os pássaros sonham aos trópicos,
e os passos cortam os templos solos,
A Sibila se vai, ferina!
Não pode voar! Não ainda…
Nem sente à distância o corpo efêmero,
Ao quarto em penumbra, lívido…
Desprendido do seu último devaneio,
Da janela, as cortinas são o único movimento
ainda presente neste quarto… Silêncio…
Entre quadros, pincéis, um violino sem cordas,
CDs ainda lacrados, Vinis encaixotados…
Clonazepans, fluoxetinas…
Um riso perdido de menina.
Jaz ali, a Musa Morta…
(Anderson Delano Ribeiro – 2007)
(Foto de cottonbro studio no Pexels)
AREIAS NEGRAS
AREIAS NEGRAS
Quão Bella trilha,
Tênue sinfonia
entre mar e ilha,
Eia, louca sintonia…
Desenterra este âmago
do baú das agruras,
O tesouro amargo
desabrocha
feito aráceas em flor,
Das lacrimais ondas
flutuam ritmadas águas-vivas
garças riscam céu e mar,
quão unhas outrora
cravadas no peito,
Lauda e verso ao ar,
Egresso desta vida,
percebo,
A mádida magia,
tácita brisa fria,
Réquiem a própria melodia.
(Anderson Delano Ribeiro – 2007)
(Foto de Nothing Ahead no Pexels)
HAIKAI (DOS CICLOS)
HAIKAI (DOS CICLOS)
Partir,
Repartir-se,
Parto ao natural.
(Anderson Delano Ribeiro)
TIRESIA
TIRESIA
Nego-me a crer em tamanha beleza,
Que vem de ermos desconhecidos,
Um anjo? Um pássaro perdido?
Do relicário secreto de Zeus – A riqueza!
Que chega empírica e sagrada – Jamais segregada!
A deusa, musa onírica, és intocável
A mim nesta estirada, em que passas,
Descante em minhas laudas,
Alaudadas em tuas dunas de epiderme,
Caminhos que almejo,
Dentre adornos, um desejo!
Urge o seio por um beijo,
Um doce fruto, santo colo alvo que turva,
Feito brumas de inverno, teu templo jardim
De violetas enrubescidas…
Violam-se as jazidas do sentir,
Com teu sopro risonho,
Brisa louca em minha tez,
Elevando-me a tua morada,
Descompassando o templo cardíaco,
Semente da alvorada, regendo mais um dia
Com a maestria que tens de ser o que és!
A rosa dos ventos, dos frutos, dos lutos, dos tempos,
A rosa da cor e do caos!
Orgulhosa estrela mulher,
com dom de sol e lua,
És a face do intangível!
– Para os cegos que enxergam,
De se ser o que se é!
És tu, a etérea rosa perpétua.
(Anderson Delano Ribeiro – 2005 edit. 2023)
(Foto de Luna Joie no Pexels)
ONIX NOVA
ÔNIX NOVA
A princesa dos cristais tão bela chora,
Lágrimas de orvalho, o ópio das horas;
Langue e sozinha, suspensa em estrelas,
Vaga erradia nos sonhos meus…
Insanos a julgam, carrascos do ódio;
Mas não sabem da força da tépida moça,
Dos cânticos feitos a ela, sorriso de absinto;
Inspiração vesana, és tudo de belo que sinto.
Mas, e se a fada das horas morrer?
Os sonhos de uma vida vão se esvanecer,
Não havendo mais nada, senão triste sina,
De viver, sem a verve da minha menina.
Oh cândida fada minha, ofereço-te as cores,
Onire azul do céu, do mar, e o vermelho,
Dos mais loucos e exuberantes sabores;
Assim, eu te acolherei nas sépalas de brancas flores.
Dando-te as alvas asas, elevando-te aos céus,
Ao teu místico santuário iluminado,
Guiando-me nos caminhos dos teus véus
Mostrando-me as cruas marcas do passado.
E eu, cantarei uma lira à tua beleza,
Fada luz, luz-me as palavras em riqueza;
Eterna chama alva que me ilumina,
Nas noites etéreas, em que a clamo, oh doce menina.
(Anderson Delano Ribeiro – 2007)
(Foto de Jonny Lew no Pexels)
SER E TEMPO
SER E TEMPO
Ser insuficiente,
Ser o quase,
Ser como a esquina
Que leva ao peito
E arde…
Ser métrico,
Assimétrico,
Destoante,
Ser errante
Como a chuva,
Certeiro
como a lágrima,
Que turva,
Ser soneto!
Ser humano,
Ser além por dentro,
E o erro que transborda
Na corda bamba
Despertar,
O peito late fugaz,
Ser insuficiência
Cardíaca
Ser e tempo…
Ser por dentro,
Leva tempo ser
aí no mundo…
E quiçá nunca seja!
E quiçá seria?
Ser sabiá…
Voar… Voar…
Morrer, desgosto
De não mais ser,
Mas quase…
(Anderson Delano Ribeiro)
(Foto de Polina Sirotina no Pexels)
URGE
URGE
Urge em mim
O Desejo
Quão ruge
A memória
Do beijo
Do afago
Ao despejo
da história
Quão rude
seria recalcar
toda a gloria
dos segundos eternos
Urge enfim
O medo do fim
O silêncio imerso
Perverso imenso
A pressa sem rumo
apreço profundo
Na esquina de mim
com verso contido
– Conversa comigo?
– Escuta?
O grito esquecido
de quem se perdeu
Será que esqueceu?
Será que sou Eu?
Será que será?
Será que serei?
A face é a mesma
O canto, talvez…
Lembra tu
da primeira vez?
Lembra o caminho
dos olhos dela?
A capela,
o pássaro semeia
canoras histórias,
sem começo, sem fim.
Urge em mim tanger
o que outrora soube,
Que o mundo
é caminho
e o rumo se faz
Quando o pranto
acorda num cordel
urgente!
E de repente,
O repente versado
ali não mais coube!
– A sessão acabou.
(Anderson Delano Ribeiro)
(Foto de Ivan Samkov no Pexels)
INTENSA
INTENSA
Constelações corpóreas,
Olhos ensolarados,
No frio da capital és chama!
Ela sorri e assim entendi,
Além das tuas 3 Marias,
Além da pele enluarada,
Na curva concava do teu riso,
Incidem 3 pontinhos…
Reticências de Ser Verso!
Universo que une lábios!
Navego em zefir sereno,
Ébrio com o néctar do teu veneno.
(Anderson Delano Ribeiro)