ZÉJEL N°06 (DOCE MORFINA)
ZÉJEL N°06 (DOCE MORFINA)
Neste infinito estirão em que o vento,
Parece desafiar a luz efêmera dos tempos;
Poucas serão as belezas até o templo;
Em que as desgraças da vida parecem constantes.
E uma ninfa é ansiada para um breve instante,
Com as lâminas afiadas de uma asa cortante;
Ou qualquer salácia de um anjo bacante;
Aguardo teu tépido beijo de menina.
O sinal de uma profecia divina;
Comédia aos deuses que aos românticos fascina,
Desejando-te menina morte ou doce morfina;
Pois não há beleza-mor até o intangível templo.
(Anderson Delano Ribeiro – 2005)
(Foto de Pitt Rom no Pexels)
ROSA & CRUZ
ROSA & CRUZ
“Santa Luz, que se apaga ao santo ofício,
Nas piras do ódio sacramentado…
Renascendo do amor, ágape-mor,
O santo Graal dos inocentes…”
Inicia-se mais um ciclo da lua,
No céu púrpura;
E a sibila dança no círculo desnuda, pura,
Embebeda-se nas alvas sépalas como a pele sua.
Na noite eterna,
Nos amavios de Gaya,
Com suas irmãs, paixão materna;
O ciclo da vida desagua na praia.
O oráculo não tem nome,
Apenas luz, iluminada criança alada,
Rosa e Cruz, anjo que a todos seduz;
Pureza indigna ao homem.
E quando a lua pira a chama rósea,
Ela impera nos empíreos místicos,
A vésper rosiclair dos negros céus,
Vem lasciva ao círculo, dançar com o manto véu.
Alegremente a marfar os Deuses do ódio,
Num ritu de amor e vida,
Inebriando os seres com seu santo ópio;
As filhas de Diana estão de partida…
Vens com os sonhos do Segrel noturno,
Da pira erradia do Santo Ofício;
“O mal do homem, é o homem…”
E nos zéfiros se vai, quão pó de estrelas.
Na certeza de um breve retorno,
No pojar, da lua rósea da primavera,
Com suas crianças a brincar desnudas na chuva,
Com os sudários ao chão em círculo como adorno.
Surgindo do Prisco céu lucipotente,
Deixando os males totalmente impotentes;
Esvanecendo Crás…
Eternizando Hodie!
Rosa e Cruz com sua xamata estrelada,
E os pomos lúridos a alimentar as alcateias;
Luzindo o Segrel em sua estirada,
Dando vida à morte!
Com seus cantos de soprano ao luar,
Com os pássaros, ciranda a voar;
Inundando os corpos com orvalho,
O néctar divino, as lágrimas de uma mãe.
E na dança do universo,
As fadas plantam Akasha com os lábios,
Doce amor fremente – Quantum Satis!
Aos cantos, encantos de um desejo secreto.
Sobrevivente à chama das mentiras,
Num claustro templo de ocultas orgias,
“Deus nunca viveria lá…
Prédios são templos ao pseudodeus homem.”
Deus talvez fale através dos pássaros,
E sua face nos olhe num dia de sol;
As estrelas, anjos dos altos ermos.
Habitando a alma de quem crê neles.
A justiça dos homens se difere da divina,
Pois no céu púrpura brilha a rosa menina;
Renascendo nas noites lúbricas de lua,
Num círculo de véstias e peles cruas.
Suas crianças brilham como Ela,
E cantam felizes, num mágico ritual,
Dentre pequenas estrelas de sal
Os corpos tão belos com sépalas de Hera.
E o poder exalado das acácias azuis,
Faz vibrar o céu, em gotículas de cristais;
Luzindo os seios nus;
Magia das fadas, justiça divina.
Rosa e Cruz, luz no céu púrpura,
Iluminando os magos e profetas;
Nos sonhos e paixões da vida,
Ilumina suas meninas e seus jovens poetas.
(Anderson Delano Ribeiro – 2005)
(Foto de Marlon Schmeiski no Pexels)
O CIRCO
O CIRCO
O palhaço se faz num sorriso,
Mas há que o seu riso encontrar paraíso?
– Eu busco, eu busco, e só vejo chão…
Rodando, pulando, cambaleando ao chão!
O circo, circula o globo da morte,
– Quem sabe com sorte
Descubro o meu ser…
Correndo, subindo e descendo,
Quiçá, um dia há de ser!
Seguindo o estirão,
Seguindo a canção:
“Passa reto, passa mato,
Passa sobre mim…
Sob o céu tamanho encanto
desfaz-se num jardim…”
E o circo então levanta as cortinas!
– O show segue a rima
e os risos diários…
Ah, rouba o tempo, rotina tardia!
– Onde estão minhas filhas?
Onde estão meus sorrisos?
Onde na estrada perdi
meu encanto?
Pobre, o palhaço se desfaz,
A festa é mecânica, o riso também!
Inquieto, tomado por tamanho sentir,
Um curto circuito e param-se as máquinas!
No furo da lona havia uma estrela,
A lua serena se viu refletida naquele olhar,
– Quanto tempo não tinha
tempo para olhar o céu…
A vida despencou quão uma gota,
No peito floresceu liberdade…
Não há agua que lave este rosto!
Não há breu que exale mais paz!
(Anderson Delano Ribeiro – 2007)
(Foto de Jair Hernandez no Pexels)
A MUSA MORTA
A MUSA MORTA
Dos seios moços da insanidade
Eu vislumbrei a verdade do sentir,
E eram tão belos, que intumescidos,
talvez, seriam pomos interlunares…
Quão cálices de branca flor,
Um roseiral de espinhos em mãos,
e sépalas doces e mádidas da noite.
Eia e furiosa de sabores e sentidos,
perdido em dissabores,
Dentre o caule torácico deste ser…
As névoas e gemidos canoros,
Dardejam o tamis véu, desaguando
costas e costelas abaixo!
Casto e dormente corpo
desnudo trafega em Orbi Mortem,
Negras mechas esvoaçantes
são o sudário do arcanjo mulher,
Não, não clame por Lilith, Pandora,
ou mesmo Annie Marrie…
Eiva lasciva os alabastros das urbes,
com um riso tênue, um olhar distante,
Fenece às preces idílicas, maculadas;
A malva mulher, frente aos elos,
lôbrega, tácita… Percorre os dedos
bailarinos, numa trilha ao templo…
O templo-caixa, novamente sorri…
Sibilante, sorri… Dentre as brumas,
Despida em mármore branco,
No alvorecer do inverno estiolante,
O corpo de moça febril, de tórax lapidado,
dorso esguio, percorre as vias dele mesmo;
Ouve-se passos, ouve-se sinos,
os pássaros sonham aos trópicos,
e os passos cortam os templos solos,
A Sibila se vai, ferina!
Não pode voar! Não ainda…
Nem sente à distância o corpo efêmero,
Ao quarto em penumbra, lívido…
Desprendido do seu último devaneio,
Da janela, as cortinas são o único movimento
ainda presente neste quarto… Silêncio…
Entre quadros, pincéis, um violino sem cordas,
CDs ainda lacrados, Vinis encaixotados…
Clonazepans, fluoxetinas…
Um riso perdido de menina.
Jaz ali, a Musa Morta…
(Anderson Delano Ribeiro – 2007)
(Foto de Omar Tapia no Pexels)
AREIAS NEGRAS
AREIAS NEGRAS
Quão Bella trilha,
Tênue sinfonia
entre mar e ilha,
Eia, louca sintonia…
Desenterra este âmago
do baú das agruras,
O tesouro amargo
desabrocha
feito aráceas em flor,
Das lacrimais ondas
flutuam ritmadas águas-vivas
garças riscam céu e mar,
quão unhas outrora
cravadas no peito,
Lauda e verso ao ar,
Egresso desta vida,
percebo,
A mádida magia,
tácita brisa fria,
Réquiem a própria melodia.
(Anderson Delano Ribeiro – 2007)
(Foto de Nothing Ahead no Pexels)
HAIKAI (DOS CICLOS)
HAIKAI (DOS CICLOS)
Partir,
Repartir-se,
Parto ao natural.
(Anderson Delano Ribeiro)
TIRESIA
TIRESIA
Nego-me a crer em tamanha beleza,
Que vem de ermos desconhecidos,
Um anjo? Um pássaro perdido?
Do relicário secreto de Zeus – A riqueza!
Que chega empírica e sagrada – Jamais segregada!
A deusa, musa onírica, és intocável
A mim nesta estirada, em que passas,
Descante em minhas laudas,
Alaudadas em tuas dunas de epiderme,
Caminhos que almejo,
Dentre adornos, um desejo!
Urge o seio por um beijo,
Um doce fruto, santo colo alvo que turva,
Feito brumas de inverno, teu templo jardim
De violetas enrubescidas…
Violam-se as jazidas do sentir,
Com teu sopro risonho,
Brisa louca em minha tez,
Elevando-me a tua morada,
Descompassando o templo cardíaco,
Semente da alvorada, regendo mais um dia
Com a maestria que tens de ser o que és!
A rosa dos ventos, dos frutos, dos lutos, dos tempos,
A rosa da cor e do caos!
Orgulhosa estrela mulher,
com dom de sol e lua,
És a face do intangível!
– Para os cegos que enxergam,
De se ser o que se é!
És tu, a etérea rosa perpétua.
(Anderson Delano Ribeiro – 2005 edit. 2023)
(Foto de Luna Joie no Pexels)
ONIX NOVA
ÔNIX NOVA
A princesa dos cristais tão bela chora,
Lágrimas de orvalho, o ópio das horas;
Langue e sozinha, suspensa em estrelas,
Vaga erradia nos sonhos meus…
Insanos a julgam, carrascos do ódio;
Mas não sabem da força da tépida moça,
Dos cânticos feitos a ela, sorriso de absinto;
Inspiração vesana, és tudo de belo que sinto.
Mas, e se a fada das horas morrer?
Os sonhos de uma vida vão se esvanecer,
Não havendo mais nada, senão triste sina,
De viver, sem a verve da minha menina.
Oh cândida fada minha, ofereço-te as cores,
Onire azul do céu, do mar, e o vermelho,
Dos mais loucos e exuberantes sabores;
Assim, eu te acolherei nas sépalas de brancas flores.
Dando-te as alvas asas, elevando-te aos céus,
Ao teu místico santuário iluminado,
Guiando-me nos caminhos dos teus véus
Mostrando-me as cruas marcas do passado.
E eu, cantarei uma lira à tua beleza,
Fada luz, luz-me as palavras em riqueza;
Eterna chama alva que me ilumina,
Nas noites etéreas, em que a clamo, oh doce menina.
(Anderson Delano Ribeiro – 2007)
(Foto de Jonny Lew no Pexels)
SER E TEMPO
SER E TEMPO
Ser insuficiente,
Ser o quase,
Ser como a esquina
Que leva ao peito
E arde…
Ser métrico,
Assimétrico,
Destoante,
Ser errante
Como a chuva,
Certeiro
como a lágrima,
Que turva,
Ser soneto!
Ser humano,
Ser além por dentro,
E o erro que transborda
Na corda bamba
Despertar,
O peito late fugaz,
Ser insuficiência
Cardíaca
Ser e tempo…
Ser por dentro,
Leva tempo ser
aí no mundo…
E quiçá nunca seja!
E quiçá seria?
Ser sabiá…
Voar… Voar…
Morrer, desgosto
De não mais ser,
Mas quase…
(Anderson Delano Ribeiro)