JUS SANGUINIS
– Serias tu, vivaz suficiente
Para viver eternamente?…
Vivo os dissabores da vida,
Nas tênues noites frias;
Lôbrego, na ânsia de um sonho,
No firmar da lua, pobre Eva cativa.
Ah, lúgubre noite bela!
Faz-me pensar em tudo que vivi de perverso,
Na amada que levou consigo minh’alma,
Num pedido negado, morte! Em Police Verso.
Verso, versos que tem me atormentado…
“– Ah meu amado, por que estás tão calado?
…breve hei de partir… Oh por favor, mate-me!
Mate-me para que eu possa viver em ti!…”
Ah, se minhas lágrimas virassem chuva…
Não haveria mais sol!
E o mundo seria um oceano negro.
Vejam, meu sangue não é nenhum néctar de uvas.
Meu sangue é chama!
Fogo que inflama,
Lungentes raízes em meu peito,
Possuindo, todo o meu leito.
E a cólera pira em meus olhos;
Eu nunca fui nem serei amado…
Bem o profeta já havia ditado:
“– O poeta, anjo da dor, respira a chama do amor…
Ele ama a Vida assim como a Morte,
Ama o belo, o alegre e o triste;
E tanto amor nele existe,
Tanto para os fracos como para os fortes;
Que pobre, nada lhe é devotado,
Nem a esperança de ser lembrado…”
O poeta é brisa fina da manhã,
Agonizante orvalho da manhã.
Mas o que é poesia?
Será que há poesia?
Ou apenas fantasia;
Utópica junção de palavras.
O que existe lá fora?
O que te rodeia agora?
Será que existe um algo a mais no mundo?
Seria um devaneio? Ou um olhar profundo?
Minhas perguntas teriam respostas?
Só se vê o que desejamos ver;
O que queremos crer.
A poesia só existe para quem a deseja.
Eu, desejo a liberdade!
O direito de amar na vida,
E não me afogar no lodo das vaidades…
Cantar, gritar, e um dia descansar.
De mim foi roubado este direito!
Eu sou o príncipe da noite de lua,
O pierrot que chora sobre o amor perfeito,
E agoniza um sorriso sobre a pele crua.
Viver é mais que existir!
Eu apenas existo…
Insignificante persisto,
Como uma velha árvore sem fruto.
Infinitamente de luto…
Proliferando nas sementes vazias,
A vagar nos zéfiros sem rumo,
Caçando o santo humus…
Preso às correntes dos ventos,
No ciclo eterno dos tempos;
Morrendo, vivendo e renascendo,
Num frio jogo que só eu sei…
Meu sangue alimenta os anjos,
Meu corpo é o santuário da dor;
Eu só queria vislumbrar por uma vez a cor,
Dos seios da liberdade! E tocar,
A face da insana felicidade.
(Anderson Delano Ribeiro)