HAICAI AORTA
HAICAI AORTA
Deixar ir é um ato de Amor,
Nem sempre a flor bruta brota,
No horto ou na Aorta Coração!
(Anderson Delano Ribeiro)
CASTANHOS TARDIOS
CASTANHOS TARDIOS
Havia dedicatória naquele céu,
onde o passarinho cantava
no mesmo idioma dos olhos dela.
Ela não viu, não ouviu,
nem sentiu a saudade
em tons de azul e castanhos tardios.
(Anderson Delano Ribeiro)
NINHO CORAÇÃO
NINHO CORAÇÃO
Eu acolho ela expulsa,
Eu acalmo ela pulsa.
Casa vazia sem o canto
dos passarinhos é peito triste,
sem sentir o teu pulsar.
(Anderson Delano Ribeiro)
SONETO DO VENTO DA MORTE
SONETO DO VENTO DA MORTE
O vento que bate em meu rosto
É como o tempo que muda teu corpo
A lua se intumesce toda
Quando a morte beija-me a boca
A morte tão bela e tão forte
É a vida dos que não tem sorte
O tempo com o vento da morte
Passa em meu pulso fazendo três cortes
E a vida sombria e macabra
Finalmente num ciclo se acaba
E o vento enxuga as lágrimas
Da amada parada e abismada
A morte roubou-me de ti…
E o poeta encaixotado, jaz aqui!
(Anderson Delano Ribeiro – 2003)
PELA ESTRADA AFORA
PELA ESTRADA AFORA
Quão forte e débil a menina pela estrada afora, sozinha a enfrentar um duelo de si mesma, todos os dias, a mesma correria. “Seja educada” diziam eles, porte-se como uma mocinha diziam, mas ela era dona de si mesma, crítica, evoluída não era a menina de outrora que todos queriam, a levar doces para a vovozinha, teria ela que cruzar a cidade, e por toda a parte lobos com habilidades e olhares desejantes, menina que seguia sozinha, era pobre necessitava pegar ônibus e metro a vida não é nenhum conto de fadas em que surge um lenhador para salvá-la dos lobos, ela se basta e se orgulha disso.
Leva em sua cesta doces que a vó ensinou e sustentar seus sonhos, trufas a R$: 2,00 quer ser psicóloga e cuidar de crianças, era seu sonho, escrevia sua sina, numa cidade de lobos maus, ainda menina a chapeuzinho do cotidiano que ninguém que vê, que ninguém escuta e todo dia luta para se formar, com sua cestinha cheia de bolos fofos e doces para a vovozinha se orgulhar, a primeira da família a se formar,
“Vai ser doutora minha netinha!” Bradava a vovozinha, nada medrosa dona de si, alimentava os lobos com fome iludidos a comprar doces da menina pequena de capuz vermelho no frio da cidade, sem final de aquarela, sem final de novela, na luta, separando ilusão de sonhar, segue ela pela estrada afora, marginal afora, tiete afora, corre tá na hora, nostálgica de um tempo que virá, estudar, se formar, desviando dos lobos, sem lenhador ou príncipe encantado, segue ela, feliz e bem sozinha levar orgulho doce para a vovozinha.
(Anderson Delano Ribeiro)
SORRISO DAS FLORES
SORRISO DAS FLORES
E muitos não viram o sorriso das flores
E muitos não leram os poemas dos gestos,
Tinham pressa, tinham pressão,
E não voavam mais além da rotina…
(Anderson Delano Ribeiro)
DESPIDO
DESPIDO
Desejos de paz em meio a dor
Da alma a chuva chora lá fora
Todo o pranto que guardei na mala
A dor que toma o quarto e a sala
Não me cala o poema… Despido
A despedir-se da vida vazia de afetos
Nas curvas do corpo o peito reto…
A sentença da festa do que não será…
Mais um ano, menos um ano…
Sem motivos aparentes pra seguir
Onde está tudo quebrado demais
Pra reconstituir… Encaixote-me
Sonhos, versos, corpo, meninice e dor…
Amanhã do peito há de lembrar
As histórias de um eterno amor.
(Anderson Delano Ribeiro)
MORDAÇA
MORDAÇA
Amor dá sado
Silenciado
Sem poder falar
Sem querer ouvir
Torturado
Do outro lado
Sem querer pensar,
Nem para onde ir?
Sinto-me em sintoma
Sintonia fina
Desconstrói a rima
Amordaçada a boca
Os olhos vendados
Vendidos a normalidade louca.
(Anderson Delano Ribeiro)
SUICÍDIO
SUICÍDIO
Sobrevivente
Sobre mim
Sobre nós
Sobremesa
Sobram tristezas
Sobressalentes
Sobre quem sente
Sobre quem vive
Sobre morrer
Sob o céu esvanecer
Sobre querer
Sobre entender
Sobre viventes
Sob a semente
Sobressair
Sobre ficar
Sobreviver
(Anderson Delano Ribeiro)