LICITUDE

LICITUDE

LICITUDE

Às vezes acho
No encontro dos teus cachos
Um aroma de vida
Que por ventura perdida

Se encontra em meu olhar,
Na curva jamais esquecida
Entre o beijo, riso e o seio teu,
O turvo, desvaneceu

Com suas ondulações
Cacheadas e corpóreas em mim,
O tempo te fez mulher das águas!

Das ondas e ondulações do mar,
Eu canto para que inunde meus lábios,
Tu que és mar, navegue-te imensamente

Vésper coral em pétalas de manhã
Serena, risonha e transbordante
com hálito de hortelã.

(Anderson Delano Ribeiro – 2019)

 

(Foto de Thuanny Gantuss no Pexels)
SONETO QUESTÃO

SONETO QUESTÃO

SONETO QUESTÃO

Carece então
a questão?
Dá para sentir
saudades do futuro?

O presente pretérito
do absurdo…
Uma presença
na ausência,

O desejo incessante
do porvir!
O beijo em sentença!

Arde no peito,
Ardilosa candura
De saudades tuas.

(Anderson Delano Ribeiro)

 

(Foto de Lucas Meneses no Pexels)
CANTA PÁSSARO

CANTA PÁSSARO

CANTA PÁSSARO

O pássaro chora triste,
Numa dor que assim persiste;
No entardecer de mais um dia,
A canção não vem tardia;

Vem chorosa e glamurosa,
A canção tão poderosa;
É mais que um parto,
É uma dor que não tem jeito,

Vem latente assim do peito;
Vem da quase morte,
É uma estranha sorte.

Canta ó pássaro, e chora mais,
Feliz com sua tristeza,
Fecha os olhos, e sente a paz.

(Anderson Delano Ribeiro – 2005)

 

(Foto de Dilson Santos no Flickr)
LILYTH

LILYTH

LILYTH

Flui dos sonhos, ó ninfa em súcubo;
Na noite já tardia,
Das brumas te descubro;
Toca-me a tez em fantasia,

Mística, doce, em vão orgia;
Na ara flébil sinto teu dorso,
Danças leve em poesia,
Rosa Sacra, eflúvio em gozo.

Rasga-me o peito com um espinho,
Meu sangue faz-se o acre vinho;
Tantálicos, edênicos, efêmeros,
Como os álacres sonhos de Eros.

Musa minha de onire atroz,
Voltas a tua realidade,
Tênue, sutilmente, em nós
Restará a poética insanidade…

E d’instante eu desperto,
Dentre os templos de alabastros
E turíbulos de morfina. Onde estou?!
Ouço apenas o vento flébil cantar-me então…

Sussurros vãos que vem e vão,
Misticidade medonha,
Vesânia de quem sonha;
Cantas teu nome: Lilyth!

— Diz a mim tua confissão…

(Anderson Delano Ribeiro – 2005)

 

(Foto de Sadoc Ixtlahuaca no Pexels)
ZÉJEL N°06 (DOCE MORFINA)

ZÉJEL N°06 (DOCE MORFINA)

ZÉJEL N°06 (DOCE MORFINA)

Neste infinito estirão em que o vento,
Parece desafiar a luz efêmera dos tempos;
Poucas serão as belezas até o templo;
Em que as desgraças da vida parecem constantes.

E uma ninfa é ansiada para um breve instante,
Com as lâminas afiadas de uma asa cortante;
Ou qualquer salácia de um anjo bacante;
Aguardo teu tépido beijo de menina.

O sinal de uma profecia divina;
Comédia aos deuses que aos românticos fascina,
Desejando-te menina morte ou doce morfina;
Pois não há beleza-mor até o intangível templo.

(Anderson Delano Ribeiro – 2005)

 

(Foto de Pitt Rom no Pexels)
ROSA & CRUZ

ROSA & CRUZ

ROSA & CRUZ

“Santa Luz, que se apaga ao santo ofício,
Nas piras do ódio sacramentado…
Renascendo do amor, ágape-mor,
O santo Graal dos inocentes…”

Inicia-se mais um ciclo da lua,
No céu púrpura;
E a sibila dança no círculo desnuda, pura,
Embebeda-se nas alvas sépalas como a pele sua.

Na noite eterna,
Nos amavios de Gaya,
Com suas irmãs, paixão materna;
O ciclo da vida desagua na praia.

O oráculo não tem nome,
Apenas luz, iluminada criança alada,
Rosa e Cruz, anjo que a todos seduz;
Pureza indigna ao homem.

E quando a lua pira a chama rósea,
Ela impera nos empíreos místicos,
A vésper rosiclair dos negros céus,
Vem lasciva ao círculo, dançar com o manto véu.

Alegremente a marfar os Deuses do ódio,
Num ritu de amor e vida,
Inebriando os seres com seu santo ópio;
As filhas de Diana estão de partida…

Vens com os sonhos do Segrel noturno,
Da pira erradia do Santo Ofício;
“O mal do homem, é o homem…”
E nos zéfiros se vai, quão pó de estrelas.

Na certeza de um breve retorno,
No pojar, da lua rósea da primavera,
Com suas crianças a brincar desnudas na chuva,
Com os sudários ao chão em círculo como adorno.

Surgindo do Prisco céu lucipotente,
Deixando os males totalmente impotentes;
Esvanecendo Crás…
Eternizando Hodie!

Rosa e Cruz com sua xamata estrelada,
E os pomos lúridos a alimentar as alcateias;
Luzindo o Segrel em sua estirada,
Dando vida à morte!

Com seus cantos de soprano ao luar,
Com os pássaros, ciranda a voar;
Inundando os corpos com orvalho,
O néctar divino, as lágrimas de uma mãe.

E na dança do universo,
As fadas plantam Akasha com os lábios,
Doce amor fremente – Quantum Satis!
Aos cantos, encantos de um desejo secreto.

Sobrevivente à chama das mentiras,
Num claustro templo de ocultas orgias,
“Deus nunca viveria lá…
Prédios são templos ao pseudodeus homem.”

Deus talvez fale através dos pássaros,
E sua face nos olhe num dia de sol;
As estrelas, anjos dos altos ermos.
Habitando a alma de quem crê neles.

A justiça dos homens se difere da divina,
Pois no céu púrpura brilha a rosa menina;
Renascendo nas noites lúbricas de lua,
Num círculo de véstias e peles cruas.

Suas crianças brilham como Ela,
E cantam felizes, num mágico ritual,
Dentre pequenas estrelas de sal
Os corpos tão belos com sépalas de Hera.

E o poder exalado das acácias azuis,
Faz vibrar o céu, em gotículas de cristais;
Luzindo os seios nus;
Magia das fadas, justiça divina.

Rosa e Cruz, luz no céu púrpura,
Iluminando os magos e profetas;
Nos sonhos e paixões da vida,
Ilumina suas meninas e seus jovens poetas.

(Anderson Delano Ribeiro – 2005)

 

(Foto de Marlon Schmeiski no Pexels)
O CIRCO

O CIRCO

O CIRCO

O palhaço se faz num sorriso,
Mas há que o seu riso encontrar paraíso?
– Eu busco, eu busco, e só vejo chão…
Rodando, pulando, cambaleando ao chão!

O circo, circula o globo da morte,
– Quem sabe com sorte
Descubro o meu ser…
Correndo, subindo e descendo,

Quiçá, um dia há de ser!

Seguindo o estirão,
Seguindo a canção:

“Passa reto, passa mato,
Passa sobre mim…
Sob o céu tamanho encanto
desfaz-se num jardim…”

E o circo então levanta as cortinas!
– O show segue a rima
e os risos diários…
Ah, rouba o tempo, rotina tardia!

– Onde estão minhas filhas?
Onde estão meus sorrisos?
Onde na estrada perdi
meu encanto?

Pobre, o palhaço se desfaz,
A festa é mecânica, o riso também!
Inquieto, tomado por tamanho sentir,
Um curto circuito e param-se as máquinas!

No furo da lona havia uma estrela,
A lua serena se viu refletida naquele olhar,
– Quanto tempo não tinha
tempo para olhar o céu…

A vida despencou quão uma gota,
No peito floresceu liberdade…
Não há agua que lave este rosto!
Não há breu que exale mais paz!

(Anderson Delano Ribeiro – 2007)

 

(Foto de Jair Hernandez no Pexels)
A MUSA MORTA

A MUSA MORTA

A MUSA MORTA

Dos seios moços da insanidade
Eu vislumbrei a verdade do sentir,
E eram tão belos, que intumescidos,
talvez, seriam pomos interlunares…
Quão cálices de branca flor,
Um roseiral de espinhos em mãos,
e sépalas doces e mádidas da noite.

Eia e furiosa de sabores e sentidos,
perdido em dissabores,
Dentre o caule torácico deste ser…
As névoas e gemidos canoros,
Dardejam o tamis véu, desaguando
costas e costelas abaixo!

Casto e dormente corpo
desnudo trafega em Orbi Mortem,
Negras mechas esvoaçantes
são o sudário do arcanjo mulher,
Não, não clame por Lilith, Pandora,
ou mesmo Annie Marrie…

Eiva lasciva os alabastros das urbes,
com um riso tênue, um olhar distante,
Fenece às preces idílicas, maculadas;
A malva mulher, frente aos elos,
lôbrega, tácita… Percorre os dedos
bailarinos, numa trilha ao templo…

O templo-caixa, novamente sorri…
Sibilante, sorri… Dentre as brumas,
Despida em mármore branco,
No alvorecer do inverno estiolante,
O corpo de moça febril, de tórax lapidado,
dorso esguio, percorre as vias dele mesmo;

Ouve-se passos, ouve-se sinos,
os pássaros sonham aos trópicos,
e os passos cortam os templos solos,
A Sibila se vai, ferina!
Não pode voar! Não ainda…

Nem sente à distância o corpo efêmero,
Ao quarto em penumbra, lívido…
Desprendido do seu último devaneio,
Da janela, as cortinas são o único movimento
ainda presente neste quarto… Silêncio…
Entre quadros, pincéis, um violino sem cordas,
CDs ainda lacrados, Vinis encaixotados…
Clonazepans, fluoxetinas…
Um riso perdido de menina.
Jaz ali, a Musa Morta…

(Anderson Delano Ribeiro – 2007)

 

(Foto de Omar Tapia no Pexels)

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