CÁLIX
CÁLIX
Alar-te-ei, Dríade das manhãs!
Quão jacente dentre os véus,
Desnudando segredos,
Evocando aos céus…
Segregados no passado,
Degustados como medo,
Despe os sonhos dos culpados,
Entornando seus desejos.
Ó doce estrela de sal,
Mádidos lábios de vinho,
Gotejam aos seios serenos,
Altivos tampouco pequenos;
Mágica dos olhos teus,
Perfuram os linhos
das véstias de Zeus,
Perdura-se as ninfas
das videiras empíricas…
Rainha das Hidras,
Jasmim dentre as hídrias,
São teus olhos, meu destino,
Retornando o Eu-menino,
Dos cristais constelados,
Refletindo o sol da alma…
Logrando o sonho, acalma;
Lisa pele curvilínea,
Açucena entorpecida,
Sépalas adocicadas,
Adornam suas costelas consteladas,
Alada Dríade das manhãs,
Em teu colo prostrarei,
Com um toste dentre os cálices,
Vãos prazeres brindarei.
(Anderson Delano Ribeiro – 2005)
(Foto de Ron Lach no Pexels)
ZÉJEL SOLENE
ZÉJEL SOLENE
Para que há tardança?
Acalentar a criança,
Prorrogar uma dança?
Quão olente flor de laranjeira,
Solfejar da graúna do alto de uma palmeira,
Não fosse essa tal segunda-feira,
Talvez até mergulhasse da cimeira,
Afetado pelo fremente calor que refuto,
Ébrio à voluptuosa cor deste fruto,
Um veemente sabor que degusto!
Dormente, um doce surto!
Recolhe, desperta, chegou primavera!
(Anderson Delano Ribeiro – 2006 revisitada em 2025)
(Foto de Elizabeth Olson no Pexels)
FIGO
FIGO
Funesta flora inflamada,
Sepulcro de Elisabethiella,
A Vespa vestida de pólen
Dentre as vestias folhas do paraíso,
Seu jardim, seu mausoléu,
Num chiste viraria alimento?
Sagrada dança em poema poente,
Repousa em sicônio templo.
Intumescido seio púrpura — Ficus!
Fruto florido,
Bendito da morte,
O sabor doce da vida.
(Anderson Delano Ribeiro)
(Foto de Lidya Kohen no Pexels)
A CONDESSA
A CONDESSA
— Salve a Deusa, Ave a Condessa!
Antes que a ventura padeça,
Antes que o mar resplandeça!
Sálvia doce aconteça…
Senhora do Quadrilátero Cruls…
Erradia em minhas paixões,
Nos afrescos da Catedral,
Prosto-me ao chão contigo,
Como o cântico antigo:
Estás tu, na tez de todas as musas!
Se sois única e muitas… És minha!
Rainha das 712 quadras;
Ecoa teu tom em mim,
Quão canoro canto do tangará!
Sete vidas, sete sonhos,
Santa alva do altar!
Perguntas se te quero?
Se te espero na alvorada?
O tepor dos teus mistérios,
Mais sincero é o meu Amor!
Límpidas urnas resplandecentes,
Indecentes ao teu colo febril…
São os frutos da Serpente
Num vestido azul anil?
Nemesias e Hortênsias
Dão vida a morte!
Consorte, te sigo
nos passos desta dança,
Faz morada em meu corpo?
Teu reino, em meu corpo!
Dorme, dorme princesinha…
Dorme em meu peito morno,
Condensa as aguas do porto,
Minha Condessa menina,
Mulher que o sabor das frutas domina,
O algor das lutas termina!
Vencendo as horas, os dias,
A distância sobre as vias,
Andante, pelas quadras prestante,
Descoberta em anseios meus,
Despida de qualquer temor,
Quão a lua veste a noite,
Macaio veludo e teu véu,
Um dédalo de estrelas e céu!
Intangível foi-se o tempo!
O momento é além,
O infinito é aquém,
E o além fica dentre as auroras
Aureoladas nos olhos desta mulher!
Réquiem a ti!
— A Condessa do Quadrilátero Cruls.
(Anderson Delano Ribeiro – Escrita em 2005 revisitada em 2025)
Quadrilátero Cruls: A Missão Cruls foi uma Comissão Exploradora do Planalto Central, composta por pesquisadores e cientistas de diversas áreas, chefiada pelo astrônomo e geógrafo belga Louis Ferdinand Cruls, a Missão Cruls demarcou uma área de 14.400 Km² para a futura capital, batizando-a de “Quadrilátero Cruls”. Mais tarde conhecida como Brasília.
(Foto de Heber Vazquez no Pexels)
VÉSPER E LUA
VÉSPER E LUA
D’um colar de estrelas brancas
Colam-se em beijos sublimes,
subliminares, coxas, seios, ancas,
Gestos simples sobre os lábios firmes;
Ronronam nuas Ondas,
Sobe e desce o Mar,
Estremece toda a ponta,
Das colinas ao quebra-mar,
Perpétuas flores orvalhadas,
Contam rumores sobre Fadas
Calmaria das manhãs — Vésper e Lua!
Desperto, torpe da tormenta
De ontem, cheiro de menta
da boca fresca da amada — Minha e Sua!
(Anderson Delano Ribeiro – 2005)
(Foto de Yaroslav Shuraev no Pexels)
LUFADAS
LUFADAS
Lufadas marítimas
Perduram-se em amavios,
Dos belvederes aos navios,
Sopram as fadas do sul;
Opalas e azaleias azuis,
Ornamentam os favos
Favônios de um vergel
De sonhos nus…
Tíbios hálitos chamados
Maresia, nostalgia
Mareada nos olhos de alguém,
Longe, inerte como um monge,
Soslaio, solitário,
Ou sequer imaginário?
Zuarte trançado cobre
A vestal que o transato move.
(Anderson Delano Ribeiro – 2005)
(Foto de Inna Mykytas no Pexels)
HAIKAI UMBILICAL
HAIKAI UMBILICAL
Sonhar contigo,
mergulhando no abismo
curvilíneo do teu umbigo.
(Anderson Delano Ribeiro)
(Foto de Alena Shekhovtcova no Pexels)
VINTE E UM
VINTE E UM
De noite
No céu chovia,
O Choro
De quem sofria,
O luto
Da pandemia,
Na noite
Que enlanguescia,
O fruto
Da agonia,
O vulto
Da nostalgia,
Voltar,
Já não poderia,
Rezar?
Não confortaria!
A noite
É a companhia,
Oculto
Essa dor tardia,
Cantando
Vã melodia
Num sopro
De alegria,
Despeço,
E o silêncio
entoa!
Os passos
de uma Pessoa,
Que busca
quem foi um dia.
(Anderson Delano Ribeiro)
(Foto de Anna Shvets no Pexels)
LASCÍVIA
LASCÍVIA
Os sudários fremem com a brisa a adentrar as persianas,
Aquecendo-os nas trempes com as caldeiras negras;
Dentre as caldeiras, plantas e flores, num aroma mágico,
As vestias úmidas pelas poções transluziam alvas sedas.
Insinuando os sinuosos corpos róseos das damas;
Jovens felizes com lindas açucenas nas cabeças…
Faltara pouco para as meninas tornarem-se amas,
E num rito de amor, despir-se ao luar para que o anjo padeça.
Dentre o vergel altivo as peles brilham mais,
Sob a lua tão cheia, que almeja ser mulher;
E o círculo místico torna-se a arena dos encantos,
Levando os errôneos patriarcas aos prantos.
Nos toques mais belos do amar,
Nas bocas intumescidas a calar,
E colarem-se, fazendo a pira queimar…
O círculo purifica o sangue inquisitivo.
E as crianças amadurecem em sibilas
Aos olhos do oráculo Selene, perfeição divina,
Filha da noite e do dia, com os olhos safira o mar das santas ilhas.
Ela reina ao centro, e colhe cada menina.
A última será a escolhida, a dona dos rumos,
Dando vida, a vida da noite;
No fremir das mandoras, vanescem-se os açoites,
As harpas cantam, e as fadas inundam o chão com húmus.
Nos suspiros do jorrar das águas, como se soubessem;
Oráculo inicia e acolhe o santo fruto,
Tão doce, que até os deuses por inveja chamam o luto.
E o ósculo é dado, e pelas águas os corpos descem.
Na dança dos corpos, tudo é infinito,
Os seios um só seio,
As bocas uma boca,
E o sexo, é único e mais bonito…
— Mas o que é permitido? O desejo é latente…
Assim os pássaros renascem e as flores vêm veementes;
E nada existe, senão as lembranças,
Sonhos vãos das ninfas, que dormiram crianças.
(Anderson Delano Ribeiro – 2005)