O homem pós moderno, padece de uma precária relação com o outro e com o mundo, o imediatismo por produzir, consumir, sejam produtos e ou mesmo o outro, traz consigo a superficialidade das relações. Tornamo-nos escravos de nossas criações, por um desejo de fuga da realidade, que atroz, cobra cada vez mais cedo deveres, afazeres, tentamos de todas as formas escapar para uma alternativa digital, um viés de lazer camufla uma questão muito maior, a tecnologia tenta nos preencher lacunas existenciais, os games, outras realidades, as redes sociais, contatos imediatos porém vagos, em meio a compartilhamentos inesgotáveis de conteúdos que alegram, revoltam, mas o afetam a cada carregar de página.

Consumimos sem perceber uma demanda de saberes inesgotáveis em redes sociais, mas poucos são os construtivos e os que ficam, passam por nós, como um desenrolar infindo de um carretel de experienciáveis saberes, vãos ou não, impossíveis de serem todos absorvidos a tempo.

A fuga da realidade, nos áureos tempos do ultra-romantismo intitulado como “mal-do-século” no século XIX pela poesia de Lord Byron e Álvares de Azevedo, pela vida boemia, regida por uma melancolia, é repaginada em modo mais sucinto, como a depressão, a angústia, e a ansiedade, que afligem o século XXI e o que outrora era poesia é agora um anestesiamento de sentidos. Atentando para a própria depressão também ser chamada de mal do século.

Onde outrora era o Álcool a fuga da realidade, hoje é o Clonazepam, que permeia as gavetas das casas, com um nome muito mais discreto para quem pensa que Rivotril é o chamado “remédio de maluco”, ou que a Fluoxetina que o filho toma é mais light que o Prozac da vizinha histérica, desconhecendo que são na verdade a mesma droga com nomes diferentes. A medicalização da vida corre para suprir a dor de existir.

E por outra via, quase imperceptível caminham outras possibilidades de fuga e vício, a TV não mais ocupa lugar central na casa, onde muitas gerações cresceram com forte influência televisiva sejam os programas, desenhos, filmes, e video-games, estes ganharam novas formas de absorvição, com os computadores, tablets, e smartphones ligados a internet, consumimos conteúdo, jogamos, conversamos, tudo ao mesmo tempo. É incrível mas isso é sim possível, porém esse excesso de fatores sensoriais nos brinda com rasos encontros, e sim uma fuga do real, com uma incessante embriaguez. Um vício pela conectividade que na verdade desconecta do mundo e de si.

Martin Heidegger em sua obra Ser e Tempo traz o conceito de Dasein, que significa aproximadamente com Ser-aí-no-mundo, leia-se como uma palavra por isso o uso do hífen. O homem é SENDO, podemos citar Vinicius de Moraes e sua canção O Operário em Construção como alusão, pois o homem vive em uma eterna construção de Ser, onde esse homem só chega a ser ele mesmo no momento em que não é mais, ou seja, a morte.