O BREJO

O BREJO

O BREJO
 
O Brejo brejeiro
Nos fundos da casa,
Não é Rio de Janeiro,
Muito menos Mar Del Plata,
 
Sequer tem sobrenome
O brejo dos sapos,
Dos gorjeios úmidos
E a pressa das cobras
 
É só Brejo,
Como fosse João,
Como fosse José,
 
Candura que beija-me a mão,
E Brincam
Peixinhos no pé…
 
(Anderson Delano Ribeiro – Maio de 2020)
 
 
(Foto de Nicole Avagliano no Pexels)
LA NINÃ

LA NINÃ

LA NINÃ
 
E veio num bom dia
Quebrada pela dor
E como de costume
Enxuguei amiúde
 
o sereno em tua face
 
Até que não mais houvesse
Até estancar com a aurora
De um novo dia, nova flor!
Regava com afeto e presença
 
A importância da tua existência
E te falava dos ciclos da lua
E tu das tuas constelações
E ficávamos, como no tempo
 
Antes do teu abandono…
 
Parecia surtir efeito
O jeito que cuidara
daquela flor, daquele antigo jardim
Eis que de repente,
 
não mais que de repente!
 
Ali não mais estavas,
Fostes, serenamente,
Silenciosamente,
Como os ciclos de outrora
E novamente partiu,
Com o canto da aurora…
 
Não te culpo, pois de mim
Nada tens, senão o doce afeto
Da liberdade, da liberdade de voar,
Da liberdade de sentir, sem nada esperar,
Senão o fim dos meus dias (a única certeza)
 
É por isso, que não me importo
em me importar…
Que seja eu, mensageiro
ou ouvinte das mares,
Passageiro ou caminho que caminha junto.
 
Com o tempo percebi que és tu,
Como a própria vida, que vem,
Primavera, inverna e veraneia!
Nos teus próprios ciclos, La Ninã!
Que só os estudiosos entendem…
 
(Anderson Delano Ribeiro – Abril de 2020)
PERFUMARIA

PERFUMARIA

PERFUMARIA
 
Minha coleção de tristezas
Guardo em frascos coloridos,
Cada uma com sua essência no tempo,
 
Umas cítricas, outras amadeiradas,
Refrescam a memória
num perfume etéreo…
 
Vaporoso hálito da saudade
traz aroma de esquecimento,
E fixa na pele as agruras do abandono…
 
(Anderson Delano Ribeiro – Dezembro de 2019)
 
 
(Foto de Daria Shevtsova no Pexels)
GESTOS RUBROS

GESTOS RUBROS

GESTOS RUBROS

Lírio valente,
Delírio em flor,
Potente!
De liras delirantes,

Que sente!
A flor da pele,
Rente a alvura
Que me turva,

E se prosta o céu
Na altura
do teu dorso,

Caule curvilíneo,
Gestos rubros!
De lírios ardentes.

(Anderson Delano Ribeiro)

 

(Foto de Jo Kassis no Pexels)
POR OUTRO OUTUBRO COMO O TEU

POR OUTRO OUTUBRO COMO O TEU

POR OUTRO OUTUBRO COMO O TEU
 
Enquanto ela dormia,
Sem saber, era ela poesia,
E eu menino ficava perto
Da sua imensidão,
 
Contava os sinais com a mão,
De toda sua constelação,
Com os braços bem alto,
Ela dormia…
 
Para alcançar o céu,
De certo eu sabia..
E ela espreguiçada, sorria…
Como quem foge dos finais,
 
Reticências num bom dia,
Três estrelas, três marias,
Que zelei à madrugada
E ela nunca saberia…
 
(Anderson Delano Ribeiro)
SETEMBROTOU

SETEMBROTOU

SETEMBROTOU
 
Se tem brotou no vazio a flor,
o canto dos pássaros
chamavam pra dançar,
enquanto chovia em mim,
 
todas as tempestades que engoli,
gotejantes, comprimidas,
no céu da boca…
 
(Anderson Delano Ribeiro)
NA SACADA POSSO VER O SILÊNCIO

NA SACADA POSSO VER O SILÊNCIO

NA SACADA POSSO VER O SILÊNCIO
 
Na sacada posso ver o silêncio,
ouço o riso do vento inflamando meu peito,
a cidade segue a produzir aço,
os trens torpes marcham a pão e ferro,
 
A mesa vazia rodeada por cadeiras desritmadas,
tão bela sala íntima e vazia, retrato de um coração,
reflexo de um sonho, companhia que não veio,
receio achar bela esta sala, este vazio,
 
Acostumado a solidão,
intimidado no destino de crescer e deixar de fora
o menino que sonhara voar por esta sacada
sem despencar no real…
 
A vida, está vida que alimenta,
sustenta e me mata aos poucos
não necessita de sentido,
mas sentir-se vivo,
 
Como a canção dos pássaros aos castanhos sois,
e as constelações combinadas
de um signo de fogo e ar
que nunca me esqueci…
 
(Anderson Delano Ribeiro)
SONETO CORES PERDIDAS

SONETO CORES PERDIDAS

SONETO CORES PERDIDAS
 
Perdura, estranha loucura,
Perdoa e me cura?
Perpétua flor de agruras,
O sonho que flutua…
 
Na névoa se situa,
Jardim que se esqueceu,
Perpétua perpetua…
Não minha, mas tua…
 
Candura? Se foi…
Quem espera na esquina?
A menina, certa hora,
 
Teimosa senhora,
Da dor que me adormece,
Não esquece, do que foi.
 
(Anderson Delano Ribeiro)

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