LA GUESA

LA GUESA

LA GUESA
 
Caminhas em longa estirada,
Como quem foge de algo,
Tens no peito uma bússola guardada,
E na frente, um sorriso almo.
 
Foges criança, pois ele vem,
Mas não demonstres fraqueza;
Com teus olhos seduza a riqueza,
E camufle os segredos que tem;
 
Todos querem teu coração,
Sacrifício de uma estrela decaída,
Mas tu, apenas queres uma saída,
Em prazerosa sensação…
 
Sentir-se luzir como a lua,
Aos artistas mostrar-se nua,
E vagar sempre bela na eternidade,
Como um anjo esculpido em verdade,
 
Mas ele logo chegará, sabe onde tu estás;
E vem alado a rasgar as ruas;
E agora diante de teu carrasco, faz teu pedido:
“Oh meu Chacal, mostre-me a face tua…”
 
Ele atende, e abismada ela vê a tênue
Face do medo refletida…
A Guesa foi mui ingênua
O Chacal inebria teu corpo e tua mente;
 
Tocam-se os seios em verve,
E despem-se na urbe que ferve,
Inebrias com o ópio teu Chacal,
Inebrias em ti o animal…
 
As estrelas d’instante vem ao chão,
E a Guesa é possuída sem perdão,
“Ama-a como a ti mesma…”
Desnudas em penumbra qualquer;
 
O Chacal a faz mulher;
No silêncio que se exalta no peito,
O compasso dos sonhos, dentre os cantos,
Cantos místicos em um obscuro leito;
 
E envoltas em sussurros e risos,
A Guesa se doa em sacrifício,
Na explosão dos santos guizos,
 
E um beijo silencia o ofício…
 
E o encanto termina quando vem a aurora,
E o louco sonho vai dentre as cortinas afora;
No leito, a desnuda menina…
Que dos lábios foi-se a vida.
 
Nestes lábios bonitos,
Um vago sorriso; O roxo das violetas;
E um belo mosaico de espelhos…
A rodeiam… Que toquem as trombetas!(…)
 
No santo altar da insanidade,
O tempo dará sua conotação;
Pois a beleza, a tristeza e a pobreza,
Estão em cada coração.
 
– Talvez a insanidade seja um dos caminhos da verdade.
 
(Anderson Delano Ribeiro – Meados de 2005)
 
 
(Foto de Tainá Bernard no Pexels)
SOBREVIVER

SOBREVIVER

SOBREVIVER
 
Sobre viver?
Trata-se de
Sobreviver!
Sob reviver
Diariamente!
Sobre rever
O que se sente!
Só breve ver
Sobre as correntes,
Estremecer
O corpo rente,
A juventude
Que desprende,
A conta gotas
Em carne quente,
Sobre dizer
O que se entende,
sobre se permitir
Não entender…
Sobre aprender
Sobre mim
Sobre você
sobre nós…
Sobre nossa voz!
Sobre o silêncio
Em disputa,
Sobre o cansaço
da Luta…
Sobre viventes.
 
(Anderson Delano Ribeiro)
MEU CANTO

MEU CANTO

MEU CANTO
 
Hoje minha voz amanheceu sonora,
corri de Bemol até Lá e busquei no Sol
uma luz cristalina e límpida,
sem Dó, sonhei sem dor Mi.
 
(Anderson Delano Ribeiro)
MICROCONTO AMARELO

MICROCONTO AMARELO

MICROCONTO AMARELO
 
Dizia minha avó: “Amarelo é desespero!”
Eu discordo por inteiro,
na liberdade das cores,
quero um amarelo em Sol maior!
 
(Anderson Delano Ribeiro)
A MÁSCARA DE BALBÓ

A MÁSCARA DE BALBÓ

A MÁSCARA DE BALBÓ
 
“— A máscara cai… e eu não vejo sombras,
Não há mais como esconder; então, vejo quem sou!”
 
De fronte ao espelho imenso
Que todas as verdades acolhe,
Ruflam as aves, senão anjos bailarinos,
Numa dança de despedida.
A brisa exala um doce incenso,
E o iluminado rei parte samango,
Vem num ar débil a rainha Selene,
Trazendo consigo as sementes dos sonhos.
A imensidão se expande como o hálito
Das meninas dos bosques, despidas
Unem-se, num doce e delicioso vapor.
— vem Segrel contar-me teus segredos!
As lamúrias oceânicas em teu peito.
Quem és? Por que te cobres a face e o corpo?
Deixa-me sentir, e sinta-te como o é…
Não te fujas em noturno cordel,
Na estirada eterna, vá
De Atlântida à Walhalla
 
Com seu alado corcel.
Efêmera razão que te veste e despe.
Tão atroz, tão veloz..
Urram os ventos, como uma fêmea
Enlanguescida, contraindo-se toda
Tão suave e tão feroz…
Os tempos não apagaram seus vestígios,
Correm lentos, como gotas orvalhadas
D’um caule verde
Transpiram das sépalas todas vis
Que uma rosa não pode exalar.
Cândido aroma de flor e mulher,
Seriam as flores dos bosques poéticos?
Agânipe que brota da terra,
Em semideusas, ou simplesmente
Fadas alvas de décima quinta primavera;
Iluminam meus cânticos,
E me embebedam de bocas róseas,
Pomos nunca tocados, esplendorosos,
Rígidos e brancos, tal duas luas…
Num toste de bocas licorosas,
Mordiscando a melancolia…
Melancolicamente volta-me a sanidade,
E vão-se loucas as vaidades,
Devaneios menores que a solidão;
Ou que a vesana razão;
A noite é meu tugúrio,
 
E o Segrel vê a cor da sua dor,
O Segrel sou eu…
Um Pierrot de mármore
A adornar o sepulcro da vida,
Meu pranto é poesia gotejante,
Penetrando o solo, umedecendo os restos,
E dando vida a outras vidas…
 
(Anderson Delano Ribeiro – Meados de 2005)
 
* Máscara de Balbó é uma alusão a alegoria de Medusa e Perseu.
 
 
ZÉFIROS DO ÓPIO MALDITO

ZÉFIROS DO ÓPIO MALDITO

ZÉFIROS DO ÓPIO MALDITO
 
Zéfiros divinos que tocam minha fronte,
O édem me circunda, e vislumbro toda uma vida perdida,
Ventura a minha de sentir forte presença nas amarílis da vida,
E o céu se inflama sobre os sinuosos montes.
E ébrio por tamanho furor, componho missivas,
Missivas devóticas a uma estrela que não mais luz;
 
Estrela Mulher, ser intangível do templo de Shiva,
Filha de Brid, mística musa que com um olhar conduz;
Deste-me o nectar proibido,
Em teu hálito esquecido;
Enlaguescendo-me por completo,
Deixando-me imerso nos teus sonhos secretos.
 
Mostraste-me o verdadeiro lugar em que habito,
O empíreo dantesco destinado aos poetas,
És meu chacal errante, a morte, anjo maldito!
Vens com tua xamata estrelada,
Cada estrela um poeta…
Teus olhos sugam-me toda a beleza d’alma,
 
Deixando-me a pureza pungida em palidez;
Prema meus sonhos, reinando a insensatez.
Tenho medo de tocar-te, e vanescer sufocado em tua calma.
És bela, anjo que expele em rosas, perfume de pele;
A lúgubre arlequina de porcelana,
Tépidas espáduas a guardar pomos docemente segredados.
 
Dou-te minha última devoção, resto de quem ama;
Votas a mim teu alvo amor vertido!
Razão da vesânia estagnada em meu ser,
Tives-te me tido como teu vassalo amoroso,
E roubas-te-me a alma, deixando-me vértigo.
Por pejar ermos caminhos, tentando achar-te,
 
De visu pelo ósculo sagrado,
Em verve, por sentir-te nas vândeas rodeado,
Esmorecido, mas vivo pela chama da arte;
Percebo que teu sopro me alivia a tez,
E inebria a alma, pois deténs nos lábios
O doce ópio vesânico, rosas da morbidez;
 
A luz que desnorteia as trevas…
A vida de dia, a morte ao luar,
Sou o pobre Don Juan Del Marco enamorado,
Um pobre coitado pelo destino castigado;
Poeta triste, nos amavios do mar…
Amiga, amada, princesa do medo,
 
Porque roubas-te minha vida tão cedo?
Levaste com a brisa meu humilde coração,
E nas íntimas brumas pranteio minha última devoção.
Mas tamanho ludibrio não me deixas ver-te limpa,
Não sei quem és, minha vida ou minha morte?
Sei que sou medo e dor espelhados em ti ninfa.
 
Desventuras que pungem-me quando deixo-me tocar,
Causando em meu peito profundos cortes;
Pranto dos estigmatas do agape-mor…
Mui atroz é o teu pírico mel,
Sangue doce, plasma místico do poeta d’aura pura.
Sou tu, e sabeis… Mas não tens porque temer,
 
Pois o Eden putrefaz o sonho erradio…
E volvemos? O zéfiro toca tua fronte,
E o Eden dos mortos nos rodeia…
A vida se foi, como as lágrimas que secaram,
Sobre este botão de rosa, viva e vermelha,
Que contrastam com teu colo frio e face langue.
 
Dou-te um beijo, ósculo do adeus;
E tudo termina aqui, é o fim sem início,
E sobre o alabastro frio, aos pés do arcanjo,
Nós brindamos… A vida sofrida,
Aos sonhos desfeitos…
E respinga em face langue, o ópio do meu sangue!
 
(Anderson Delano Ribeiro – Meados de 2005)
 
 
(Foto de fotografierende no Pexels)
SONETO DILACERADO

SONETO DILACERADO

SONETO DILACERADO
 
De lá será da mente
O infinito cotidiano,
Das Agruras que me
Beijam amaviosa vis,
 
De um pranto
que se planta dissabor,
Quão devoluta ventura
Desta aventura vil,
 
Arde, o suspiro nada doce
Que do âmago se amargura,
Há que desta aurora febril
 
Buscar bem lá no fundo,
As réstias qu’inda
me restam…
 
(Anderson Delano Ribeiro)
 
 
(Foto de Fillipe Gomes no Pexels)
O BREJO

O BREJO

O BREJO
 
O Brejo brejeiro
Nos fundos da casa,
Não é Rio de Janeiro,
Muito menos Mar Del Plata,
 
Sequer tem sobrenome
O brejo dos sapos,
Dos gorjeios úmidos
E a pressa das cobras
 
É só Brejo,
Como fosse João,
Como fosse José,
 
Candura que beija-me a mão,
E Brincam
Peixinhos no pé…
 
(Anderson Delano Ribeiro – Maio de 2020)
 
 
(Foto de Nicole Avagliano no Pexels)

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