ARANHAZINHA
ARANHAZINHA
Pequenina aranhazinha,
tecelã de sonhos vã,
tão miudinha aos meus olhos,
tão grandiosa em véstias de hortelã.
(Anderson Delano Ribeiro)
Foto de Matthis Volquardsen no Pexels
MEU CANTO
MEU CANTO
Hoje minha voz amanheceu sonora,
corri de Bemol até Lá e busquei no Sol
uma luz cristalina e límpida,
sem Dó, sonhei sem dor Mi.
(Anderson Delano Ribeiro)
MICROCONTO AMARELO
MICROCONTO AMARELO
Dizia minha avó: “Amarelo é desespero!”
Eu discordo por inteiro,
na liberdade das cores,
quero um amarelo em Sol maior!
(Anderson Delano Ribeiro)
A MÁSCARA DE BALBÓ
A MÁSCARA DE BALBÓ
“— A máscara cai… e eu não vejo sombras,
Não há mais como esconder; então, vejo quem sou!”
De fronte ao espelho imenso
Que todas as verdades acolhe,
Ruflam as aves, senão anjos bailarinos,
Numa dança de despedida.
A brisa exala um doce incenso,
E o iluminado rei parte samango,
Vem num ar débil a rainha Selene,
Trazendo consigo as sementes dos sonhos.
A imensidão se expande como o hálito
Das meninas dos bosques, despidas
Unem-se, num doce e delicioso vapor.
— vem Segrel contar-me teus segredos!
As lamúrias oceânicas em teu peito.
Quem és? Por que te cobres a face e o corpo?
Deixa-me sentir, e sinta-te como o é…
Não te fujas em noturno cordel,
Na estirada eterna, vá
De Atlântida à Walhalla
Com seu alado corcel.
Efêmera razão que te veste e despe.
Tão atroz, tão veloz..
Urram os ventos, como uma fêmea
Enlanguescida, contraindo-se toda
Tão suave e tão feroz…
Os tempos não apagaram seus vestígios,
Correm lentos, como gotas orvalhadas
D’um caule verde
Transpiram das sépalas todas vis
Que uma rosa não pode exalar.
Cândido aroma de flor e mulher,
Seriam as flores dos bosques poéticos?
Agânipe que brota da terra,
Em semideusas, ou simplesmente
Fadas alvas de décima quinta primavera;
Iluminam meus cânticos,
E me embebedam de bocas róseas,
Pomos nunca tocados, esplendorosos,
Rígidos e brancos, tal duas luas…
Num toste de bocas licorosas,
Mordiscando a melancolia…
Melancolicamente volta-me a sanidade,
E vão-se loucas as vaidades,
Devaneios menores que a solidão;
Ou que a vesana razão;
A noite é meu tugúrio,
E o Segrel vê a cor da sua dor,
O Segrel sou eu…
Um Pierrot de mármore
A adornar o sepulcro da vida,
Meu pranto é poesia gotejante,
Penetrando o solo, umedecendo os restos,
E dando vida a outras vidas…
(Anderson Delano Ribeiro – Meados de 2005)
* Máscara de Balbó é uma alusão a alegoria de Medusa e Perseu.
(Foto de Nicolas Postiglioni no Pexels)
ZÉFIROS DO ÓPIO MALDITO
ZÉFIROS DO ÓPIO MALDITO
Zéfiros divinos que tocam minha fronte,
O édem me circunda, e vislumbro toda uma vida perdida,
Ventura a minha de sentir forte presença nas amarílis da vida,
E o céu se inflama sobre os sinuosos montes.
E ébrio por tamanho furor, componho missivas,
Missivas devóticas a uma estrela que não mais luz;
Estrela Mulher, ser intangível do templo de Shiva,
Filha de Brid, mística musa que com um olhar conduz;
Deste-me o nectar proibido,
Em teu hálito esquecido;
Enlaguescendo-me por completo,
Deixando-me imerso nos teus sonhos secretos.
Mostraste-me o verdadeiro lugar em que habito,
O empíreo dantesco destinado aos poetas,
És meu chacal errante, a morte, anjo maldito!
Vens com tua xamata estrelada,
Cada estrela um poeta…
Teus olhos sugam-me toda a beleza d’alma,
Deixando-me a pureza pungida em palidez;
Prema meus sonhos, reinando a insensatez.
Tenho medo de tocar-te, e vanescer sufocado em tua calma.
És bela, anjo que expele em rosas, perfume de pele;
A lúgubre arlequina de porcelana,
Tépidas espáduas a guardar pomos docemente segredados.
Dou-te minha última devoção, resto de quem ama;
Votas a mim teu alvo amor vertido!
Razão da vesânia estagnada em meu ser,
Tives-te me tido como teu vassalo amoroso,
E roubas-te-me a alma, deixando-me vértigo.
Por pejar ermos caminhos, tentando achar-te,
De visu pelo ósculo sagrado,
Em verve, por sentir-te nas vândeas rodeado,
Esmorecido, mas vivo pela chama da arte;
Percebo que teu sopro me alivia a tez,
E inebria a alma, pois deténs nos lábios
O doce ópio vesânico, rosas da morbidez;
A luz que desnorteia as trevas…
A vida de dia, a morte ao luar,
Sou o pobre Don Juan Del Marco enamorado,
Um pobre coitado pelo destino castigado;
Poeta triste, nos amavios do mar…
Amiga, amada, princesa do medo,
Porque roubas-te minha vida tão cedo?
Levaste com a brisa meu humilde coração,
E nas íntimas brumas pranteio minha última devoção.
Mas tamanho ludibrio não me deixas ver-te limpa,
Não sei quem és, minha vida ou minha morte?
Sei que sou medo e dor espelhados em ti ninfa.
Desventuras que pungem-me quando deixo-me tocar,
Causando em meu peito profundos cortes;
Pranto dos estigmatas do agape-mor…
Mui atroz é o teu pírico mel,
Sangue doce, plasma místico do poeta d’aura pura.
Sou tu, e sabeis… Mas não tens porque temer,
Pois o Eden putrefaz o sonho erradio…
E volvemos? O zéfiro toca tua fronte,
E o Eden dos mortos nos rodeia…
A vida se foi, como as lágrimas que secaram,
Sobre este botão de rosa, viva e vermelha,
Que contrastam com teu colo frio e face langue.
Dou-te um beijo, ósculo do adeus;
E tudo termina aqui, é o fim sem início,
E sobre o alabastro frio, aos pés do arcanjo,
Nós brindamos… A vida sofrida,
Aos sonhos desfeitos…
E respinga em face langue, o ópio do meu sangue!
(Anderson Delano Ribeiro – Meados de 2005)
(Foto de fotografierende no Pexels)
SONETO DILACERADO
SONETO DILACERADO
De lá será da mente
O infinito cotidiano,
Das Agruras que me
Beijam amaviosa vis,
De um pranto
que se planta dissabor,
Quão devoluta ventura
Desta aventura vil,
Arde, o suspiro nada doce
Que do âmago se amargura,
Há que desta aurora febril
Buscar bem lá no fundo,
As réstias qu’inda
me restam…
(Anderson Delano Ribeiro)
(Foto de Fillipe Gomes no Pexels)
O BREJO
O BREJO
O Brejo brejeiro
Nos fundos da casa,
Não é Rio de Janeiro,
Muito menos Mar Del Plata,
Sequer tem sobrenome
O brejo dos sapos,
Dos gorjeios úmidos
E a pressa das cobras
É só Brejo,
Como fosse João,
Como fosse José,
Candura que beija-me a mão,
E Brincam
Peixinhos no pé…
(Anderson Delano Ribeiro – Maio de 2020)
(Foto de Nicole Avagliano no Pexels)
LA NINÃ
LA NINÃ
E veio num bom dia
Quebrada pela dor
E como de costume
Enxuguei amiúde
o sereno em tua face
Até que não mais houvesse
Até estancar com a aurora
De um novo dia, nova flor!
Regava com afeto e presença
A importância da tua existência
E te falava dos ciclos da lua
E tu das tuas constelações
E ficávamos, como no tempo
Antes do teu abandono…
Parecia surtir efeito
O jeito que cuidara
daquela flor, daquele antigo jardim
Eis que de repente,
não mais que de repente!
Ali não mais estavas,
Fostes, serenamente,
Silenciosamente,
Como os ciclos de outrora
E novamente partiu,
Com o canto da aurora…
Não te culpo, pois de mim
Nada tens, senão o doce afeto
Da liberdade, da liberdade de voar,
Da liberdade de sentir, sem nada esperar,
Senão o fim dos meus dias (a única certeza)
É por isso, que não me importo
em me importar…
Que seja eu, mensageiro
ou ouvinte das mares,
Passageiro ou caminho que caminha junto.
Com o tempo percebi que és tu,
Como a própria vida, que vem,
Primavera, inverna e veraneia!
Nos teus próprios ciclos, La Ninã!
Que só os estudiosos entendem…
(Anderson Delano Ribeiro – Abril de 2020)
PERFUMARIA
PERFUMARIA
Minha coleção de tristezas
Guardo em frascos coloridos,
Cada uma com sua essência no tempo,
Umas cítricas, outras amadeiradas,
Refrescam a memória
num perfume etéreo…
Vaporoso hálito da saudade
traz aroma de esquecimento,
E fixa na pele as agruras do abandono…
(Anderson Delano Ribeiro – Dezembro de 2019)