ZÉFIROS DO ÓPIO MALDITO
Zéfiros divinos que tocam minha fronte,
O édem me circunda, e vislumbro toda uma vida perdida,
Ventura a minha de sentir forte presença nas amarílis da vida,
E o céu se inflama sobre os sinuosos montes.
E ébrio por tamanho furor, componho missivas,
Missivas devóticas a uma estrela que não mais luz;
Estrela Mulher, ser intangível do templo de Shiva,
Filha de Brid, mística musa que com um olhar conduz;
Deste-me o nectar proibido,
Em teu hálito esquecido;
Enlaguescendo-me por completo,
Deixando-me imerso nos teus sonhos secretos.
Mostraste-me o verdadeiro lugar em que habito,
O empíreo dantesco destinado aos poetas,
És meu chacal errante, a morte, anjo maldito!
Vens com tua xamata estrelada,
Cada estrela um poeta…
Teus olhos sugam-me toda a beleza d’alma,
Deixando-me a pureza pungida em palidez;
Prema meus sonhos, reinando a insensatez.
Tenho medo de tocar-te, e vanescer sufocado em tua calma.
És bela, anjo que expele em rosas, perfume de pele;
A lúgubre arlequina de porcelana,
Tépidas espáduas a guardar pomos docemente segredados.
Dou-te minha última devoção, resto de quem ama;
Votas a mim teu alvo amor vertido!
Razão da vesânia estagnada em meu ser,
Tives-te me tido como teu vassalo amoroso,
E roubas-te-me a alma, deixando-me vértigo.
Por pejar ermos caminhos, tentando achar-te,
De visu pelo ósculo sagrado,
Em verve, por sentir-te nas vândeas rodeado,
Esmorecido, mas vivo pela chama da arte;
Percebo que teu sopro me alivia a tez,
E inebria a alma, pois deténs nos lábios
O doce ópio vesânico, rosas da morbidez;
A luz que desnorteia as trevas…
A vida de dia, a morte ao luar,
Sou o pobre Don Juan Del Marco enamorado,
Um pobre coitado pelo destino castigado;
Poeta triste, nos amavios do mar…
Amiga, amada, princesa do medo,
Porque roubas-te minha vida tão cedo?
Levaste com a brisa meu humilde coração,
E nas íntimas brumas pranteio minha última devoção.
Mas tamanho ludibrio não me deixas ver-te limpa,
Não sei quem és, minha vida ou minha morte?
Sei que sou medo e dor espelhados em ti ninfa.
Desventuras que pungem-me quando deixo-me tocar,
Causando em meu peito profundos cortes;
Pranto dos estigmatas do agape-mor…
Mui atroz é o teu pírico mel,
Sangue doce, plasma místico do poeta d’aura pura.
Sou tu, e sabeis… Mas não tens porque temer,
Pois o Eden putrefaz o sonho erradio…
E volvemos? O zéfiro toca tua fronte,
E o Eden dos mortos nos rodeia…
A vida se foi, como as lágrimas que secaram,
Sobre este botão de rosa, viva e vermelha,
Que contrastam com teu colo frio e face langue.
Dou-te um beijo, ósculo do adeus;
E tudo termina aqui, é o fim sem início,
E sobre o alabastro frio, aos pés do arcanjo,
Nós brindamos… A vida sofrida,
Aos sonhos desfeitos…
E respinga em face langue, o ópio do meu sangue!
(Anderson Delano Ribeiro – Meados de 2005)