LA NINÃ
LA NINÃ
E veio num bom dia
Quebrada pela dor
E como de costume
Enxuguei amiúde
o sereno em tua face
Até que não mais houvesse
Até estancar com a aurora
De um novo dia, nova flor!
Regava com afeto e presença
A importância da tua existência
E te falava dos ciclos da lua
E tu das tuas constelações
E ficávamos, como no tempo
Antes do teu abandono…
Parecia surtir efeito
O jeito que cuidara
daquela flor, daquele antigo jardim
Eis que de repente,
não mais que de repente!
Ali não mais estavas,
Fostes, serenamente,
Silenciosamente,
Como os ciclos de outrora
E novamente partiu,
Com o canto da aurora…
Não te culpo, pois de mim
Nada tens, senão o doce afeto
Da liberdade, da liberdade de voar,
Da liberdade de sentir, sem nada esperar,
Senão o fim dos meus dias (a única certeza)
É por isso, que não me importo
em me importar…
Que seja eu, mensageiro
ou ouvinte das mares,
Passageiro ou caminho que caminha junto.
Com o tempo percebi que és tu,
Como a própria vida, que vem,
Primavera, inverna e veraneia!
Nos teus próprios ciclos, La Ninã!
Que só os estudiosos entendem…
(Anderson Delano Ribeiro – Abril de 2020)
PERFUMARIA
PERFUMARIA
Minha coleção de tristezas
Guardo em frascos coloridos,
Cada uma com sua essência no tempo,
Umas cítricas, outras amadeiradas,
Refrescam a memória
num perfume etéreo…
Vaporoso hálito da saudade
traz aroma de esquecimento,
E fixa na pele as agruras do abandono…
(Anderson Delano Ribeiro – Dezembro de 2019)
(Foto de Daria Shevtsova no Pexels)
GESTOS RUBROS
POR OUTRO OUTUBRO COMO O TEU
POR OUTRO OUTUBRO COMO O TEU
Enquanto ela dormia,
Sem saber, era ela poesia,
E eu menino ficava perto
Da sua imensidão,
Contava os sinais com a mão,
De toda sua constelação,
Com os braços bem alto,
Ela dormia…
Para alcançar o céu,
De certo eu sabia..
E ela espreguiçada, sorria…
Como quem foge dos finais,
Reticências num bom dia,
Três estrelas, três marias,
Que zelei à madrugada
E ela nunca saberia…
(Anderson Delano Ribeiro)
SETEMBROTOU
SETEMBROTOU
Se tem brotou no vazio a flor,
o canto dos pássaros
chamavam pra dançar,
enquanto chovia em mim,
todas as tempestades que engoli,
gotejantes, comprimidas,
no céu da boca…
(Anderson Delano Ribeiro)
HAIKAI DORMENTE
HAIKAI DORMENTE
E a dor mece
A saudade…
Em canto teu.
(Anderson Delano Ribeiro)
NA SACADA POSSO VER O SILÊNCIO
NA SACADA POSSO VER O SILÊNCIO
Na sacada posso ver o silêncio,
ouço o riso do vento inflamando meu peito,
a cidade segue a produzir aço,
os trens torpes marcham a pão e ferro,
A mesa vazia rodeada por cadeiras desritmadas,
tão bela sala íntima e vazia, retrato de um coração,
reflexo de um sonho, companhia que não veio,
receio achar bela esta sala, este vazio,
Acostumado a solidão,
intimidado no destino de crescer e deixar de fora
o menino que sonhara voar por esta sacada
sem despencar no real…
A vida, está vida que alimenta,
sustenta e me mata aos poucos
não necessita de sentido,
mas sentir-se vivo,
Como a canção dos pássaros aos castanhos sois,
e as constelações combinadas
de um signo de fogo e ar
que nunca me esqueci…
(Anderson Delano Ribeiro)
SONETO CORES PERDIDAS
SONETO CORES PERDIDAS
Perdura, estranha loucura,
Perdoa e me cura?
Perpétua flor de agruras,
O sonho que flutua…
Na névoa se situa,
Jardim que se esqueceu,
Perpétua perpetua…
Não minha, mas tua…
Candura? Se foi…
Quem espera na esquina?
A menina, certa hora,
Teimosa senhora,
Da dor que me adormece,
Não esquece, do que foi.
(Anderson Delano Ribeiro)
SONETO ENTRE FRACASSOS
SONETO ENTRE FRACASSOS
É que o meu fracasso,
É que afeto não se compra,
E saudade não se encontra
Em ritmia em outro peito,
É que meu fracasso,
Não se mede no abraço,
Não precede ao laço,
De um plano perfeito,
Talvez meu fracasso,
Foi ter sido poeta,
Em sentido da meta
De sentir carne osso,
É que talvez meu fracasso,
Foi não ter sido de Aço.
(Anderson Delano Ribeiro)










