LA NINÃ
 
E veio num bom dia
Quebrada pela dor
E como de costume
Enxuguei amiúde
 
o sereno em tua face
 
Até que não mais houvesse
Até estancar com a aurora
De um novo dia, nova flor!
Regava com afeto e presença
 
A importância da tua existência
E te falava dos ciclos da lua
E tu das tuas constelações
E ficávamos, como no tempo
 
Antes do teu abandono…
 
Parecia surtir efeito
O jeito que cuidara
daquela flor, daquele antigo jardim
Eis que de repente,
 
não mais que de repente!
 
Ali não mais estavas,
Fostes, serenamente,
Silenciosamente,
Como os ciclos de outrora
E novamente partiu,
Com o canto da aurora…
 
Não te culpo, pois de mim
Nada tens, senão o doce afeto
Da liberdade, da liberdade de voar,
Da liberdade de sentir, sem nada esperar,
Senão o fim dos meus dias (a única certeza)
 
É por isso, que não me importo
em me importar…
Que seja eu, mensageiro
ou ouvinte das mares,
Passageiro ou caminho que caminha junto.
 
Com o tempo percebi que és tu,
Como a própria vida, que vem,
Primavera, inverna e veraneia!
Nos teus próprios ciclos, La Ninã!
Que só os estudiosos entendem…
 
(Anderson Delano Ribeiro – Abril de 2020)