O BAILE

O BAILE

O BAILE
 
São três horas de uma hora
madrigal, a lua, já ate parece
estar lôbrega e embriagada…
— Aliás todos estão!
Mascarados embriagados,
envaidecidos, gargalham
carcarejadamente, e a música
é mero murmúrio desse momento.
 
É um baile de máscaras!
Em que os desmascarados,
são Pierrots de toda vida,
e suas máscaras, apenas,
lamentações enraizadas…
 
Já os mascarados! Sorriem,
suas máscaras são as mais belas,
as mais caras, e ainda!
Re-ti-rá-veis… Mas quem às tira?
Chama-me a atenção as faces
lânguidas e surreais…
 
Pudera eu ler suas mentes,
seus olhos mudos, gritam latentes!
Como um comentário sutil, porém…
— Cada baile desses custa Uma Vida,
mas quanto vale Uma Vida?
Cada máscara dessas, uns cem pratos
de comida… Um Sorriso?
Vai meu soldo, e eu, valho
em peso real, o mesmo que carrego
em minhas mãos…
 
O baile é de cartas marcadas!
Reis, príncipes, rainhas
e um arlequim na manga…
Um capanga da insanidade.
— Vai! Vai! Morra por nós!
Sorria vassalo amigo!
Teu castigo, não é servir-nos,
É pensar…
 
O ópio da alta sociedade
é soez, o elixir das vaidades,
deliciosamente viciante,
extasiante, o gozo dos Deuses!
Um toste de orgia à corte.
O Blue Blood é suave,
orvalha das mamas da sanha,
aos lábios do Ego… Ecoa!
 
Dentre essas torres de cristal e alabastro,
segue a risca um jogo cênico;
Deveras, o néctar dos astros,
está além do rum, do whisky,
mel, sangria e arsênico.
 
(Anderson Delano Ribeiro – 2005)
DELÍCIAS ÍNFIMAS

DELÍCIAS ÍNFIMAS

DELÍCIAS ÍNFIMAS

Eis o Anjo lascivo
de ínfimo corpo…
desnuda segredada
no silêncio do corvo.

na sádica valsa
dos mortos,
em que vives e alça
o delírio dos corpos!

Quão a serpe que se rosca
n’outra serpe posta
e nua… Ou nuas? Neste templo
em que mádido é o tempo,

e o tormento deste dorso
que te cobre e o gozo
infindo da Lasciva Divina,
sente os lábios dela, sente?

Prova deles o orvalho doce
que exalas de alva pelve
e estremecida a malva pele
ressurge em verve louça

fina que se quebra
ao toque febril
e insano enerva…
A Morte tão vil;

mas seriam Anjos
numa salácia mortal?
e eu sepultado ouço
a sinfonia da luxúria,

estremecidas em ancas
cruzadas, minha tortura!
os lábios dela aos lábios
úmidos d’outra rósea flor…

beije-os, prove-os, o néctar
que orvalha d’outros lábios
Ínfimos , íntimos… Por favor!
Cruzem as rosas!

(Ante minha Cruz…)

Ferem-se em espinhos
das mãos de sangue e mel,
Às possuo , penetrando
em desejos e olhares

contraindo-as, sem Ares
num toste a Dionísio ,
As sépalas intumescidas
saboreadas por mim….

Nas línguas delas,
os seios gélidos
ressoam o pulsar meu,
A Vida efêmera nelas!

(e em mim), Inflamadas,
lisas , meu suspiro
arrepiam-lhes todas
desnudas, em si amarradas,

adornam o templo meu,
de Flores, Vida e Mel…
e eu as cubro de Noite
e as estrelas se desfazem

Quão gotas de Delícias Divinas…

(Anderson Delano Ribeiro – 2007)

 

#LaudasAlaudadas

 

SONETO TRISTE SINA

SONETO TRISTE SINA

SONETO TRISTE SINA

 

Luíza foi… Sim, foi,
Lá para longe,
Lá onde visconde escuta
Drão… Dil seu tio amado,

Matuto do serrado perdeu o chão,
Banqueiro meteu a mão,
Dinheiro faltou e Luiza se foi por esse mundão,
Da vida de andanças buscar esperança

Alugar casa nova buscar outra estância;
— Vá mas leve esse pão, toalha e sabão
Caso o ônibus pare e ao mundo repare

Toda a beleza de recomeçar sem os pés nesse chão…
— Se nos roubam o caminho, tio Dil tenho tino,
pra voar mais alto que avião.

 

(Anderson Delano Ribeiro)

 

#AlegoriasDeUmaVida

ERA PRA SER HAIKAI DEU QUARTETO

ERA PRA SER HAIKAI DEU QUARTETO

ERA PRA SER HAIKAI DEU QUARTETO

Eu sei a soma dos versos
e a subtração da dor,
nessa conta nem me perco,
faz de conta o meu acerto.

(Anderson Delano Ribeiro)

 

#AlegoriasDeUmaVida

EXÍLIO

EXÍLIO

EXÍLIO

Ainda que tardio,
vim; — Enfrente!
Eu e a mala carmim,

Num pais dentro da pedra,
de um caminho sem saber,
se sou Rio ou a Ilha,

Certeza apenas da quimera,
do além-mar que deixei pra trás
e que por vezes falta faz.

Vim buscar asas, estrelas,
transbordamentos luminosos,
onde em real é reto, plano,

planície sem curvas aos olhos,
ah as curvas, sinuosas ao corpo,
às obras, aos versos, à musa!

A musa é o templo em mim,
de uma saudade flébil
das canções do mar…

Não fosse a musa
o Exílio seria completo!
Sem mim em mim…

Ébrio em vastidão!
Sem janelas para bramar!
Essa cólera encoleirada

prestes a soltar-se!
Feroz Eu versus Eu,
Vazios e preenchimentos.

O idioma é o mesmo,
O axioma certeiro!
O sentimento é morteiro!

Plano, reto, feto, fetal, fatal!
segue num tango mango
em minha fronte! Atroz!

Laça, marca, pulveriza a nós!
Voz quieta que ensurdece!
Adornam o tripalium…

Caberia todo esse sentir
em infindos tercetos
ínfimos de mim?

Não… O exílio é quieto,
É silencioso e consome,
como alma vã em fome,

De um elixir que construa
toda essa desconstrução,
além das rugas rachadas.

(Anderson Delano Ribeiro)

 

#AlegoriasDeUmaVida

 

QUIÁLTERA

QUIÁLTERA

QUIÁLTERA
 
Qual o preço da poesia? Perguntou-me uma Dona em minha porta,
Quanto custa o pão do verso? Surpreso, sorri, mas sem resposta contive-me,
Pois não há gratuidade em perecer… o riso pesou-se em gramas,
 
Eis que: Qual o peso da poesia? Pesa feito grão? Pesa feito grama?
De leve, e algodão só o meu bolso sem cigarro e sem grana…
Senhorinha meus versos são sementes e dou-te um pra ver se vinga,
 
Se não vingar, não se zangue nem vingue-se de mim,
Há que o verso é minha agua, meu ópio, minha pinga!
O fumo que não fede, o álcool que não esteriliza. Ferida perfumada.
 
— Achei que seu tema zafimeiro de plêiade soliloquista
Fosse um furdunço de fundir a cuca!
Esbravejou a Dona em minha porta.
 
— Eia buscar pra plantar em meu Relicário,
Que esse seu poema combina com uns Sonhos em meu armário.
O preço do livro é o livramento, de quem escreve e de quem percebe.
 
— Queria a riqueza das vagas quimeras de meras dores do mar,
Com certa franqueza queria uma fortuna de doutor,
Mas com os pés desrecalcados pelas quiálteras da planície.
 
A Senhora de pele rugosa com riso lúbrico de quem conseguira satisfeita
disse: — Vou-me agora, posto ha certas horas que o incerto nos atinge.
Sem entender a narrativa estranha, questionei-lhe: — Quem sois Senhora?
 
— Não sou dessas que finge, por mais que digam de mim, sou senhora e menina,
E por mais que insistam, estou longe do fim, Vim visitar-te poeta que sabeis tu,
Não há linha reta pra mim… Sou curva incerta, que as vezes bate a porta, sou a VIDA.
 
(Anderson Delano Ribeiro)
 
 
(Foto original por Du R Maciel – CreativeCommons)
DIZ DESDIZ

DIZ DESDIZ

DIZ DESDIZ

 

DES
armo
DIZ
amo
DIZ
ah!
DES
almo
DES
almejo
DES
cubro
DES
fruto
DEZ
noites
DES
nudas
DES
com
passa
das
DIZ
eres
DES
espera
DES
esperança
DES
cansa
DES
calça
DIZ
dança?

 

(Anderson Delano Ribeiro)

 

#AlegoriasDeUmaVida

 

(Foto original por Du R Maciel – CreativeCommons)

 

DESVINCULEI-ME

DESVINCULEI-ME

DESVINCULEI-ME

Desvinculei-me da vis pedregosa em mim,
quatro partículas dolorosas de fim,
Enfim, desvesiculei os versículos de morte,
Num quarto, sete pontos e meus quatro cortes.

(Anderson Delano Ribeiro)

 

#AlegoriasDeUmaVida

 

SENSO

SENSO

SENSO

 

Sem cura
para vaidades,
Sem culpa,
para as verdades,

Censura
essa Boca?
Secura
à voz rouca!

Sem sua
lisa pele
repele o mal,
sequela formal

Sensualizar…
Ar de Lis
Sua Sem
Vergonha!

Sem pura
enfadonha,
Sepulta
ser Puta!

 

(Anderson Delano Ribeiro)

 

#AlegoriasDeUmaVida

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