CACTOS AMANHECIDOS
CACTOS AMANHECIDOS
Em mim habitam muitos vazios,
Resolvi preencher com vasinhos,
Cactos amanhecidos na janela,
Numa débil tessitura
De força e delicadeza,
Confesso que a destreza no peito
É medo que a tristeza inunde o leito,
Transbordando na quaresma
Os restos dos dias de festa,
Que ventura amar na vida
O eco do teu silêncio…
No âmago da taciturna flora,
Que perdura andar perdida
O ego em sangramento,
O sândalo perfuma a história…
(Anderson Delano Ribeiro)
O QUE É SAUDADE?
O QUE É SAUDADE?
Saudade é sopro que invade a caixinha de eternidades
e nos leva ao outro em momento fora tempo.
É o pedaço que trocamos com o outro.
E que sussurra baixinho histórias de uma vida vivida
Ou mesmo sonhada…
Saudade é conexão que não cai como o wifi,
é presença mesmo na ausência.
Transbordamento quieto em riso ou lágrima…
Saudade é quando o templo do outro em nós
se acende no peito.
E festeja em barulhenta gratidão pela eternidade vivida,
que não nos deixa dormir…
Pois estamos muito ocupados cheios de “E se”…
(Anderson Delano Ribeiro)
CASEBRE
CASEBRE
Coração vazio
Casa abandonada
Na beira da aorta
Aos fundos da estrada
(Anderson Delano Ribeiro)
MAIS VALIA
MAIS VALIA
De tudo que eu produzi,
Um dia eu possa sentir.
(Anderson Delano Ribeiro)
O RELICÁRIO E O ANEL
O RELICÁRIO E O ANEL
A menina cresceu, suas cores se esqueceu,
meu poema enlouqueceu no silêncio dessas brumas…
Ecoando em calafrios, a idade bate a porta,
e o poeta de outras Vidas, silencia em Alma morta!
O anel que eu não te destes, colorido acinzentou,
o amor que tu me tinhas à distância se apagou?
Como um ciclo as mesmas pedras,
outros deram-lhe um anel, que o peso anula às asas,
pés no chão, olhos ao léu, e as promessas à igrejinha,
norte à sul a navegar, segue o sol castanho saudade…
Chego tarde, e Anoitece às 3 marias,
um poeta vem trovar, minha voz não mais te alcança…
Deslaço o nó na garganta, canto último de criança,
sem despedida na estação das flores.
Por onde fores, leve, como pluma, leve!
Poesia verdadeira, de quem leu o teu olhar.
Foi-se como veio. E assim foi,
Assim que se foi…
(Anderson Delano Ribeiro)
A CASA DAS MÁSCARAS
A CASA DAS MÁSCARAS
A casa das máquinas guarda o dínamo infindo da vida;
Move, remove, pulsa a repulsa do Eu íntimo…
E os operários, mascarados numa ópera débil e amiúde,
Beirando um tango samango… Vulgo Cotidiano!
Eis a Casa das Máscaras! Segredada por Pandora,
Outrora caixa torácica, bate, bate e rebate…
Cronometrando seu fim… Um Eu extinto enfim!
Azinhavradas, as espadas não luzem mais em verve.
Desusas, embainhadas são um só ser…
Sem corte! Sem forte! Pobre Bardo, atroz o fardo;
Ardor ante as artérias, combustível teológico
dentre espáduas em mim, em nós…
Logicamente sós, neste baile mecânico!
Um brinde licoroso de uns frutos proibidos,
Transgenicamente modificados!
Faz a azenha de Sonhos Encaixotados.
(Anderson Delano Ribeiro – 2007)
DOCE DE LEITE
DOCE DE LEITE
E passadas as estações
E o frio tempo das desimportâncias,
Como criança via sua flor
Castanhar a tarde no céu.
Pensava que a poesia sem serventia
Não era mais tema dos teus dias…
Ainda assim, olhava de longe sem ver,
Como quem olha a lua do meio do mato
As cores deixam sua marca em mim
O doce preferido, as frutas da feira,
Cuidado de jardineiro, que zela teu sono,
Que sonha com ela,
e ela sonha meu cantar,
Devanear que o mundo inteiro é ela!
E eu metade, sou só saudades…
(Anderson Delano Ribeiro)
TÁGIDE
TÁGIDE
Os lábios entoam os zéfiros idílicos,
Como a canção ruflosa dos ermos passados,
Um beijo afável, a máxima prestante!
Que em mim, lumia a escuridão…
Parco em delírios pérfidos,
Cuja as vozes pervias
Sussurram meus desejos,
Em que a sibila que vejo
Profetiza este beijo,
Prostrando minh’alma
Na calma do Tejo,
Afagando-me a palma,
Afogando-me em resto,
Enrubescendo-lhe o rosto,
Enlaguescendo-me o gosto;
Lúgubre sonho de Hefesto…
Eia Tágide embevecida
Sendo fonte fenecida…
Sedenta, Salaz, intumescida!
Pungente, ao corpo olente…
O púbis arado marejante,
Dentre aragem débil,
Rente a paisagem febril,
Frenesi gotejante…
Vai-se oh Yara sem pejo!
Doce amavio do Tejo,
Salácia nas liras em que adejas,
Acácia à pelve lisa que beijas.
Entoam os zéfiros idílicos, os lábios!
Ruflosa canção ofegante,
Um beijo arfável, a máxima d’instante,
Que em nós, rutila toda a paixão!
(Anderson Delano Ribeiro – 10/08/2005)
Tágide: Ninfa do Tejo idealizada por Camões
(Foto por Tommy Ellis – CreativeCommons)
DE RESTO À RÉSTIA
DE RESTO À RÉSTIA
Não há arrependimento onde há amor
Não é fardo algum irrigar a flor
Quiçá a vaidade vislumbrar o campo
Desdenhar o canto que já se acabou
Não há semente que não brote
Não há choro que não conforte
Onde eterno for o amor
Não há distância que não cruze
Não há olhos senão luzes
Na semente que restou…
(Anderson Delano Ribeiro)