A CONDESSA

— Salve a Deusa — Ave a Condessa!
Antes que a ventura padeça,
Antes que o mar resplandeça!
Sálvia doce aconteça…

Lady do Quadrilátero Cruls…
Erradia em minhas paixões,
Nos afrescos da Catedral,
Prosto-me ao chão contigo,

Como o cântico antigo:
Estás tu, na tez de todas as musas!
Se sois única e muitas — És só minha!
Rainha das 712 quadras;

Ecoa teu tom em mim,
Quão canoro canto do tangará!
Sete vidas, sete sonhos,
Santa alva do altar!

Perguntas se te quero?
Se te espero na alvorada?
O tepor dos teus mistérios,
Mais sincero é o meu Amor!

Límpidas urnas resplandecentes,
Indecentes ao teu colo febril…
São os frutos da Serpente
Num vestido azul anil?

Nemesias e Hortênsias
Dão vida a morte!
Consorte, te sigo
nos passos desta dança,

— Faz morada em meu corpo?
Teu reino, em meu corpo!
Dorme, dorme princesinha…
Dorme em meu peito morno,

Condensa as aguas do porto,
Minha Condessa menina,
Mulher que o sabor das frutas domina,
O algor das lutas termina!

Vencendo as horas, os dias,
A distância sobre as vias,
Andante, pelas quadras prestante,
Descoberta em anseios meus,

Despida de qualquer temor,
Quão a lua veste a noite,
Macaio veludo e teu véu,
Um dédalo de estrelas e céu!

Intangível foi-se o tempo!
O momento é além,
O infinito é aquém,
E o além fica dentre as auroras

Aureoladas nos olhos desta mulher!
Réquiem a ti!
— A Condessa do Quadrilátero Cruls.

(Anderson Delano Ribeiro – Escrita em 2005 reeditada em 2025)

 

(Foto de Heber Vazquez no Pexels)