PELA ESTRADA AFORA
Quão forte e débil a menina pela estrada afora, sozinha a enfrentar um duelo de si mesma, todos os dias, a mesma correria. “Seja educada” diziam eles, porte-se como uma mocinha diziam, mas ela era dona de si mesma, crítica, evoluída não era a menina de outrora que todos queriam, a levar doces para a vovozinha, teria ela que cruzar a cidade, e por toda a parte lobos com habilidades e olhares desejantes, menina que seguia sozinha, era pobre necessitava pegar ônibus e metro a vida não é nenhum conto de fadas em que surge um lenhador para salvá-la dos lobos, ela se basta e se orgulha disso.
Leva em sua cesta doces que a vó ensinou e sustentar seus sonhos, trufas a R$: 2,00 quer ser psicóloga e cuidar de crianças, era seu sonho, escrevia sua sina, numa cidade de lobos maus, ainda menina a chapeuzinho do cotidiano que ninguém que vê, que ninguém escuta e todo dia luta para se formar, com sua cestinha cheia de bolos fofos e doces para a vovozinha se orgulhar, a primeira da família a se formar,
“Vai ser doutora minha netinha!” Bradava a vovozinha, nada medrosa dona de si, alimentava os lobos com fome iludidos a comprar doces da menina pequena de capuz vermelho no frio da cidade, sem final de aquarela, sem final de novela, na luta, separando ilusão de sonhar, segue ela pela estrada afora, marginal afora, tiete afora, corre tá na hora, nostálgica de um tempo que virá, estudar, se formar, desviando dos lobos, sem lenhador ou príncipe encantado, segue ela, feliz e bem sozinha levar orgulho doce para a vovozinha.
(Anderson Delano Ribeiro)