SOLILÓQUIO PARA NINGUÉM LER

Certa vez ouvi… Você é diferente… Devo ser estranho, devo ser estrela,
Dessas que luzem só em meio ao breu… Era um elogio: – Poetas são estranhos…
Disse após um riso. Na época me entristeci, Hoje me orgulho…
Sou da época das cartas, e se o tempo não me entende me adapto,
Capto no olhar o riso e a tristeza silenciada,
E além da poesia, me deitei com a psicologia, e deliramos noite a fora!
Sou insano, sou devaneio, tão louco que solilóquio esse tema,
Num poema que me reflete. Quem se importa…
Ninguém lê poesia, ninguém lê textos longos, ninguém lé olhos,
Ninguém ouve seu perfume na minha velha camiseta…

Coisa de louco, ser criança, ser velho, ser índigo, qualquer cor, qualquer tom…
Ouvi que poetas mortos vendem mais livros. Eu já deveria ter vendido alguns…
Posto morro e renasço a cada queda… Me desfaço e me faço forte, e do choro
O corte que a corte espera em taças em um toste a falácia de ser feliz agora! Carpe Diem?

Urge essa falta que não é pauta de conversa de bar, Ostentar felicidade
É tentar enganar a si, como se pudessem colher frutos de sementes sepultadas ontem…
Na verdade, Sou estranho, e me perguntam: – Por que não jogas fora esse velho vaso que tanto
Cola a cada queda? Por que não compra outra flor
ao invés de esperar essa muda silenciada crescer a cantar?
Por que esperas a Lua Nova, se amanhã ainda é Lua Cheia?

Aprendi, que Estou aqui e nada sou… Estou universitário, estou gerente,
estou desempregado, Estou contente, e Sou apenas o que deixo…
Sou o Bom dia que te alegra, sou as cartas que te deixo, sou o filho que quiçá terei,
Sou os livros que cá deixei, sou esses versos amanhecidos… Outrora esquecidos… Soul!

Sou os sonhos que alimento, as tristezas que me atormentam,
Sou o amanhã que planejo e as pequenezas que deixei em cada peito…
Sou histórias para contar em cada coração que em minha estirada cruzei…
Sou estranho nesse mundo que estranho é ser normal… E o que é normal?
Sou Poeta, sou cantor, sou loucura de menina, sou candura que ilumina…
Se for metade do que penso sou… Sei que valeu muito a pena Ser.

(Anderson Delano Ribeiro)