ROSA & CRUZ
“Santa Luz, que se apaga ao santo ofício,
Nas piras do ódio sacramentado…
Renascendo do amor, ágape-mor,
O santo Graal dos inocentes…”
Inicia-se mais um ciclo da lua,
No céu púrpura;
E a sibila dança no círculo desnuda, pura,
Embebeda-se nas alvas sépalas como a pele sua.
Na noite eterna,
Nos amavios de Gaya,
Com suas irmãs, paixão materna;
O ciclo da vida desagua na praia.
O oráculo não tem nome,
Apenas luz, iluminada criança alada,
Rosa e Cruz, anjo que a todos seduz;
Pureza indigna ao homem.
E quando a lua pira a chama rósea,
Ela impera nos empíreos místicos,
A vésper rosiclair dos negros céus,
Vem lasciva ao círculo, dançar com o manto véu.
Alegremente a marfar os Deuses do ódio,
Num ritu de amor e vida,
Inebriando os seres com seu santo ópio;
As filhas de Diana estão de partida…
Vens com os sonhos do Segrel noturno,
Da pira erradia do Santo Ofício;
“O mal do homem, é o homem…”
E nos zéfiros se vai, quão pó de estrelas.
Na certeza de um breve retorno,
No pojar, da lua rósea da primavera,
Com suas crianças a brincar desnudas na chuva,
Com os sudários ao chão em círculo como adorno.
Surgindo do Prisco céu lucipotente,
Deixando os males totalmente impotentes;
Esvanecendo Crás…
Eternizando Hodie!
Rosa e Cruz com sua xamata estrelada,
E os pomos lúridos a alimentar as alcateias;
Luzindo o Segrel em sua estirada,
Dando vida à morte!
Com seus cantos de soprano ao luar,
Com os pássaros, ciranda a voar;
Inundando os corpos com orvalho,
O néctar divino, as lágrimas de uma mãe.
E na dança do universo,
As fadas plantam Akasha com os lábios,
Doce amor fremente – Quantum Satis!
Aos cantos, encantos de um desejo secreto.
Sobrevivente à chama das mentiras,
Num claustro templo de ocultas orgias,
“Deus nunca viveria lá…
Prédios são templos ao pseudodeus homem.”
Deus talvez fale através dos pássaros,
E sua face nos olhe num dia de sol;
As estrelas, anjos dos altos ermos.
Habitando a alma de quem crê neles.
A justiça dos homens se difere da divina,
Pois no céu púrpura brilha a rosa menina;
Renascendo nas noites lúbricas de lua,
Num círculo de véstias e peles cruas.
Suas crianças brilham como Ela,
E cantam felizes, num mágico ritual,
Dentre pequenas estrelas de sal
Os corpos tão belos com sépalas de Hera.
E o poder exalado das acácias azuis,
Faz vibrar o céu, em gotículas de cristais;
Luzindo os seios nus;
Magia das fadas, justiça divina.
Rosa e Cruz, luz no céu púrpura,
Iluminando os magos e profetas;
Nos sonhos e paixões da vida,
Ilumina suas meninas e seus jovens poetas.
(Anderson Delano Ribeiro – 2005)