LA GUESA
Caminhas em longa estirada,
Como quem foge de algo,
Tens no peito uma bússola guardada,
E na frente, um sorriso almo.
Foges criança, pois ele vem,
Mas não demonstres fraqueza;
Com teus olhos seduza a riqueza,
E camufle os segredos que tem;
Todos querem teu coração,
Sacrifício de uma estrela decaída,
Mas tu, apenas queres uma saída,
Em prazerosa sensação…
Sentir-se luzir como a lua,
Aos artistas mostrar-se nua,
E vagar sempre bela na eternidade,
Como um anjo esculpido em verdade,
Mas ele logo chegará, sabe onde tu estás;
E vem alado a rasgar as ruas;
E agora diante de teu carrasco, faz teu pedido:
“Oh meu Chacal, mostre-me a face tua…”
Ele atende, e abismada ela vê a tênue
Face do medo refletida…
A Guesa foi mui ingênua
O Chacal inebria teu corpo e tua mente;
Tocam-se os seios em verve,
E despem-se na urbe que ferve,
Inebrias com o ópio teu Chacal,
Inebrias em ti o animal…
As estrelas d’instante vem ao chão,
E a Guesa é possuída sem perdão,
“Ama-a como a ti mesma…”
Desnudas em penumbra qualquer;
O Chacal a faz mulher;
No silêncio que se exalta no peito,
O compasso dos sonhos, dentre os cantos,
Cantos místicos em um obscuro leito;
E envoltas em sussurros e risos,
A Guesa se doa em sacrifício,
Na explosão dos santos guizos,
E um beijo silencia o ofício…
E o encanto termina quando vem a aurora,
E o louco sonho vai dentre as cortinas afora;
No leito, a desnuda menina…
Que dos lábios foi-se a vida.
Nestes lábios bonitos,
Um vago sorriso; O roxo das violetas;
E um belo mosaico de espelhos…
A rodeiam… Que toquem as trombetas!(…)
No santo altar da insanidade,
O tempo dará sua conotação;
Pois a beleza, a tristeza e a pobreza,
Estão em cada coração.
– Talvez a insanidade seja um dos caminhos da verdade.
(Anderson Delano Ribeiro – Meados de 2005)