ELEGIA ERRANTE

Quem és tu, que vieste dos ermos
Campos da aleia divinizada?
Amavios dantescos de um destino atroz.
És altíssima, minha tênue musa teologal;
Dona dos meus cândidos cânticos.
E contrito, peço-te clemência,
Por este, o santo afeto que me condena.
Não penses que minha ausência é fruto de frieza;
Menina de derradeiros devaneios do meu âmago.
Alado anjo do meu gótico altar-mor;
A misticidade e o poder teu, em minh’alma vã;

Destorva-me o siso, da sina de minha vida de vã.
Eu quero que vivas dentre toda a eternidade,
Proteger-te do mundo, e de mim…
E segredar minha paixão nas entrelinhas,
Eu surgi de um pedido às estrelas,
Vim das límpidas lágrimas cristais de um coração;
Pena eu ser tão efêmero… Como um sonho bom.
Volto ao meu lugar devido,
De onde eu nunca deveria ter saído.

Logo eu partirei, num albor especial,
A primavera me arrebatará,
E seguirei o caminho que meu pai mandar;
Tu ficas, ficarás eterna em minha mente;
És minha aura resplandecente,
A força que tiro da dor do meu voto.

Não consigo sentir desamor algum por ti,
E me entristeço, pois tu —
Vives para o mundo e não para mim,
E eu, vivo para o puro nada…
Anjo que estás em mim, protegendo e esmorecendo,
Não te quero mais, não mais!
Não sou devoto dos teus cantos,
Devoção é chama que destrói.
Amar-te foi fraqueza, nunca ames por amar;
Tu não me amas tanto, para votar-te tanto pranto.
E eu enclausurei na masmorra da dor,
A dor que os tolos chamam de amor.

Eu serei agora o poeta de alma morta,
O poeta de coração vazio;
O lúgubre poeta, amado da princesa Morrigan,
Ninfa, anjo sem asas e guia dos que partem.
Esta que me ama, e em breve me enviará ao empíreo;
A dama que em fúria é clamada por morte!
Mas antes que eu parta na gôndola dos dias,

Quero tentar descobrir-lhe o manto, a Vida!
E tocar-lhes as langues espáduas frias…
Pois para a Vida tudo é efêmero,
As pessoas, as riquezas, as cores e os amores,
Restando apenas o bálsamo, amor das almas;
A chama que freme louca, e não se apaga;
Pois minhas frases errôneas, são adornos –
Da louça de Deus…
E piram nas translúcidas chamas da poesia;
E nem a vida, nem a morte nem o nada,
Sufocam o amor e o ódio que habitam
Estes versos meus.

(Anderson Delano Ribeiro – 2005)

 

(Foto de Mehmet Aytemiz no Pexels)