A MÁSCARA DE BALBÓ
“– A máscara cai… e eu não vejo sombras,
Não há mais como esconder; então, vejo quem sou!”
De fronte ao espelho imenso
Que todas as verdades acolhe,
Ruflam as aves, senão anjos bailarinos,
Numa dança de despedida.
A brisa exala um doce incenso,
E o iluminado rei parte samango,
Vem num ar débil a rainha Selene,
Trazendo consigo as sementes dos sonhos.
A imensidão se expande como o hálito
Das meninas dos bosques, despidas
Unem-se, num doce e delicioso vapor.
– vem Segrel contar-me teus segredos!
As lamúrias oceânicas em teu peito.
Quem és? Por que te cobres a face e o corpo?
Deixa-me sentir, e sinta-te como o é…
Não te fujas em noturno cordel,
Na estirada eterna, vá
De Atlântida à Walhalla
Com seu alado corcel.
Efêmera razão que te veste e despe.
Tão atroz, tão veloz..
Urram os ventos, como uma fêmea
Enlanguescida, contraindo-se toda
Tão suave e tão feroz…
Os tempos não apagaram seus vestígios,
Correm lentos, como gotas orvalhadas
D’um caule verde
Transpiram das sépalas todas vis
Que uma rosa não pode exalar.
Cândido aroma de flor e mulher,
Seriam as flores dos bosques poéticos?
Agânipe que brota da terra,
Em semideusas, ou simplesmente
Fadas alvas de décima quinta primavera;
Iluminam meus cânticos,
E me embebedam de bocas róseas,
Pomos nunca tocados, esplendorosos,
Rígidos e brancos, tal duas luas…
Num toste de bocas licorosas,
Mordiscando a melancolia…
Melancolicamente volta-me a sanidade,
E vão-se loucas as vaidades,
Devaneios menores que a solidão;
Ou que a vesana razão;
A noite é meu tugúrio,
E o Segrel vê a cor da sua dor,
O Segrel sou eu…
Um Pierrot de mármore
A adornar o sepulcro da vida,
Meu pranto é poesia gotejante,
Penetrando o solo, umedecendo os restos,
E dando vida a outras vidas…
(Anderson Delano Ribeiro – Meados de 2005)
* Máscara de Balbó é uma alusão a alegoria de Medusa e Perseu.