SOBREMESA
 
Sobre a mesa, os quitutes mais formosos,
Os gargalhes mais falaciosos,
E a dourada sânie que nem Hipócrates cura…
Eu, me calo ante os rótulos e títulos de vaidades,
 
Em verdade, rogo um pão com margarina a mais
Saborosa ventura de ser livre da prisão das aparências!
Não quero, nem almejo a tez vazia de um pato putrefato,
Mas com a nobreza de ser foie gras para engordar-te o siso…
 
Penso que em meio a este meio não poderei ser quem sou,
E se não sou quem sou senão mero vislumbrador de vis vazias.
Cabe a mim com lirismo e zelo vos Dizer: Não!
Não serei como um cão sedento por alimento,
 
O talher de prata não ofusca o sabor do tormento,
Por mais que o pato aguente a gordura dessa mesa,
O pior vem sob a mesa…
O pesar amargo de cada sina sem sentido.
 
(Anderson Delano Ribeiro)