Há algum tempo tenho observado a crescente sobre o assunto depressão, ansiedade e esgotamento emocional no trabalho, assunto esse que torna-se cada vez mais comum aos meios de comunicação, nos jornais, sites, e acabam por tornar-se rotineiros em nosso dia a dia, o que outrora era visto com certo espanto e mesmo suspeita.
Já houve quem minimizasse o assunto com jargões como “Depressão é doença de rico”, “Depressão é falta de trabalho” ou simplesmente “É apenas uma fase”. Na verdade a depressão, essa angustia, é um sofrimento íntimo que não deve ser jamais banalizado, e sim tratado e compreendido como uma patologia, que por inúmeros motivos atinge a uma população cada vez mais sem tempo para si.
Essa banalização enraizada no senso comum, causa um estranho resultado a quem sofre desse mal, o constrangimento, além da dor que por vezes é realmente física refletida de uma “psique inflamada” no sentido mais amplo da palavra, que infla, que queima, que arde, de um vazio sem explicação a princípio, que ondeja em calmaria e tormenta, há um enfrentamento envergonhado ao assumir-se com a simples questão: — Estaria eu com depressão?
Um constrangimento carregado de pré-conceitos, do que seria realmente depressão e a impossibilidade imposta a nós de não termos o direito de estarmos tristes. Com respostas como: “Mas você tem uma família linda”, “Você precisa procurar uma igreja”, por mais que essas respostas sejam digamos de boa fé de seu emissor, elas em nada, absolutamente nada ajudam ao ouvinte. Pelo contrário elas só alimentam o constrangimento de encontrar-se em desconfortável situação.
A objetificação do outro no mundo cada vez mais touch screen sem toques reais e olhares, a corrida pelo sucesso onde o podium seria uma vida bem sucedida financeiramente, é vendida como uma onírica felicidade no consumo, e para consumir mais precisamos trabalhar mais, para preencher vazios enchemos as sacolas no templo do deus consumo que chamamos carinhosamente de shopping, e esquecemo-nos de nós, em meio as regras para ser feliz que nos entregam como manual de instruções desse quebra-cabeças que só termina no último suspiro.
O que está errado em nós ao não nos encaixarmos como peças desse quebra-cabeças? Não há manual ou regra para felicidade, posto que felicidade é um momento a qual estamos submetidos a boas sensações que mesmo efêmeras serão eternas em nós e a quem conosco está em tal momento. E por mais semelhantes que sejamos, somos diferentes, e nossa subjetividade, torna-nos únicos pelo simples fato de que o que serve para João, não serve para Antônio. A calça é diferente, o penteado também e o seu olhar ante ao mundo também será, logo não existe nenhuma receita de vida, como uma receita de bolo.
E ao darmos de cara com o “não dado”, com essa perda do chão, que temos a chance de lidar com novos possíveis, sem amarras, num enfrentamento, pois como há de saber o que nos espera na esquina? É preciso apenas estar preparado para o devir, e o primeiro ato quando há o estigma que nos incomoda é reconhecermos que precisamos mudar os rumos, mudar os horizontes, não se acomodar com o que incomoda como diz a canção do Teatro Mágico. E para mudar, é preciso querer mudar. Não estamos prontos para a vida, e a maior dádiva é justamente a de descobrir o véu, desbravar o além-mar construindo a nossa obra pelo caminho.