É incrível como nos surpreendemos em como o tempo parece passar mais rápido no decorrer dos anos, na verdade, o tempo não está a passar mais rápido, nós que andamos ausentes demais à vida. Somos programados desde de muito cedo para produzir, sermos produtivos na escola, no trabalho até mesmo nos finais de semana, nos cobramos isso e dos outros. Uma necessidade inexplicável quando nos perguntamos por que dessa intensa questão?

Nos esquecemos na ânsia de produtividade, da profundidade dos momentos, e das coisas realmente importantes, não somos números ou estatísticas, ou meros perfis adicionáveis e deletáveis no mundo, ou no nosso mundo em especial. Por mais que seja muito bom sabermos do nosso valor, essa supervalorização do EU, onde por mais que tenhamos nossas crenças, tratamos o mundo e ao outro numa busca de satisfação desse nosso faminto EU DEUS interior. Sem percebermos…

Disputamos sofrimentos, alegrias e não ouvimos o outro ou estamos 100% em lugar algum. A facilidade da conexão nos desconecta com o outro e por vezes consigo mesmo. Se o outro sente dor de cabeça, automaticamente muitos responderão sem maldade: “Nossa eu também estava com uma enxaqueca horrível” Se o outro se diz cansado, poderá ouvir: “Cansado de quê? Eu hoje lavei roupa, fiz comida, fui ao centro e você?” Se o outro se diz triste, por vezes ouvirá: “Triste por quê? Está num emprego maravilhoso, tem filhos lindos!”

Somos sempre juízes ante ao mundo, temos certezas e prejulgamos a Vida de maneira rasa e competitiva, assim temos sido programados para esse mundo pós moderno, competir e produzir. A vida urge que devamos exibir alegoricamente nossas viagens, nossas alegrias, nosso sucesso, numa liquidez de status e avatares como um grande baile de máscaras, somos realmente felizes? Estamos realmente onde gostaríamos de estar?

O que seria ser normal em um mundo louco e paranoico? Penso que é extremamente saudável aproveitarmos as brechas e as insanidades que a Matrix nos permite. Sair dos trilhos pela poesia, pela música, por um motivo maior, estar onde queremos estar, principalmente estando! Como isso?

O poder da tecnologia, nos deu uma falsa ideia de onipresença, estamos na aula, e ao mesmo tempo com a namorada em outro estado, estamos em família e com os amigos planejando a festa do final de semana, estamos na festa e ao mesmo tempo com os amigos em outra festa… Afinal novamente pergunto, estamos onde queremos estar?

Para criarmos laços afetivos, é preciso realmente estar, doar-se, votar tempo afeto, numa sintonia de ideias, de construção de pontes, que para que sejam sólidas necessita-se de tempo, andamos sem tempo para tudo, e os amores tornaram-se clichês sertanejos, não temos tempo a perder com reconstruções, se um celular quebra, trocamos por outro, se um amor decepciona, trocamos por outro, sem lembrarmo-nos da troca, da empatia, do entender que o outro não sou eu, por mais que tenha um pouco de mim nele que me cativou e me fez ama-lo, o outro é livre, pensa, sente como eu e pode discordar.

A construção dá-se em jogar para o lado a disputa e pensarmos em como essas relações nos constroem a medida em que a construímos juntos. Seja o amor da sua vida, ou seu melhor amigo. É preciso saber que somos livres sim, a ponto de decidir estar e esperar para colher frutos mais saborosos, construir pontes mais sólidas, desacelerar é preciso, afinal para que pressa em chegar e não aproveitar as paisagens na janela? Asseguro que será uma viagem muito mais enriquecedora.