Quem acompanha o blog sabe que eu não uso palavras grandes à toa. Mas hoje, depois de dar o play no novo lançamento do Lenine, eu precisei parar e respirar. O “Leão do Norte” está de volta, mas não do jeito que a gente está acostumado a ver nos streamings de áudio.

O nome do projeto é uma interjeição curta, grossa e puramente brasileira: EITA.

Ao assistir, a definição me veio clara na mente: isso não é apenas um disco ou um clipe. É uma experiência musical, uma experiência afetiva e, acima de tudo, uma experiência humana.

Cinema ou Música? Os dois.

Lenine quebrou a barreira do “videoclipe” tradicional. EITA chega ao público como um álbum visual, mas funciona perfeitamente como um curta-metragem.

A gente sabe que o Lenine sempre teve essa pegada de “cronista do som”, misturando rock, maracatu e eletrônico com uma precisão cirúrgica. Mas aqui, a imagem não é suporte; ela é protagonista junto com o som. A narrativa visual te prende, te guia e dá um novo peso para cada acorde do violão percussivo dele.

Por que “EITA”?

A expressão “eita” serve para o espanto e para o encantamento. E o projeto entrega exatamente essa dualidade. É uma obra sobre gente, sobre sentimentos que a gente muitas vezes não sabe nomear, mas sente na pele.

Para nós, roqueiros e amantes da boa música, ver um artista consagrado sair da zona de conforto e entregar algo tão visual e imersivo é um presente. É arte para ser consumida com calma, longe da loucura do scroll infinito das redes sociais.

A Capa: Um Mosaico de Peso e Afeto

E se o som é pedrada, o visual não fica atrás. A arte da capa é assinada pela pernambucana Luiza Morgado, uma verdadeira mestre na gravura. A conexão rolou de um jeito super orgânico: Lenine bateu o olho em um cartaz que ela fez para os 50 anos do lendário Paêbirú – Caminho da Montanha do Sol e foi amor à primeira vista visual.

O resultado? Uma linogravura incrível que funciona como um mosaico das referências afetivas do Lenine. Quem tem o olhar treinado vai sacar na hora: a estética faz uma reverência direta à arte de um LP de 10 polegadas lançado por ninguém menos que Jackson do Pandeiro lá em 1955. É raiz que fala, né?

Além desse visual retrô e handmade, a arte dialoga perfeitamente com o som, traduzindo visualmente as homenagens que Lenine presta a quatro titãs da nossa música: Dominguinhos, Letieres Leite, Naná Vasconcelos e o bruxo Hermeto Pascoal. É muita história e genialidade reunida numa imagem só.

O Veredito

Não espere apenas canções soltas. Espere uma jornada. A fotografia, a direção de arte e a sonoridade conversam de um jeito que faz a gente lembrar por que a música é tão essencial para a vida.

Se você quer entender o momento atual da carreira desse gigante da MPB, reserve um tempo e assista com atenção. Mais do que um lançamento, EITA é um manifesto afetivo do artista, disponível agora no YouTube.