Século XXI todo o conhecimento acessível a todos, o Google tornou-se muito mais que a Barsa pós-moderna, a tão famigerada enciclopédia sinônimo de saber e status no século XX, hoje é mera recordação de alguns e se pesquisar no próprio Google é alusão para um time de futebol, afinal essa geração não se imagina jamais buscando em 16 volumes o que acha em 16 segundo num “Estou com sorte”. É uma tremenda perda de tempo, e tempo no mundo pós-moderno é muito importante.
A geração Y nasceu no meio de uma revolução tecnológica, é normal hoje vermos crianças com seus próprios Smartphones, com acesso a inúmeros aplicativos, informações, tudo na velocidade da sua conexão, mas até onde essa nossa sede por estarmos conectados aos outros e ao mundo virtual é positiva? É uma gama tão imensa de opiniões, pesquisas, videos de gatinhos, teorias conspiratórias, que porta para um inúmero leque de conhecimento e diversão, mas também nos tornar dependentes de uma falaciosa liberdade, que na verdade nos aprisiona.
A tecnologia é fruto do trabalho de grandes mentes, para tornar a vida mais fácil e utilizarmos melhor o tempo em casa, com a família e também obviamente, sermos mais produtivos no trabalho, essa é a grande roda viva do capitalismo, que uns odiando ou outros amando muito tudo isso, move o mundo e nossa rotina, a palavra produtividade habita o trabalho e também nossas casas, um fim de semana produtivo pode ser nas montanhas com seu grande amor, ou na praia com uma boa bebida gelada.
Tudo é o tempo precioso e produtivo, tempo que vendemos para nossos empregos, investimos em estudos, e no meio disso tudo queremos e necessitamos de relações com o outro. Mas lembrando, temos pressa! Para onde? Para quê? Muitos sequer notam, mas vivem sua maratona diária e seria no meio disso tudo a internet o lazer para encontrar os outros, para passar o tempo, para ser quem sempre quis ser, ostentar sorrisos em fotos, metralhar barbáries nos comentários de uma matéria qualquer. A internet liberta o melhor e o pior de nós.
Mas há perdas relativamente graves, a banalização e o consumo desenfreado das coisas, e vejam só, do outro… A velocidade do conhecimento, atingiu a velocidade de produção, consequentemente a velocidade de consumo, e o smartphone de 6 meses atrás já é um aparelho de meia idade, que no próximo ano será tido como praticamente ultrapassado, e somos estimulados a querer o novo. Assim passamos a consumir superficialmente bens materiais, o saber, pesquisando no Google ou em nosso feed de notícias, e o mais perigoso, o encontro com o outro.
A comodidade de poder contar sempre com Google para responder nossas questões existenciais, de português, matemática, aquela receita de bolo, ou se devo usar o porquê juntou ou separado numa frase, nos permite saber, usar e esquecer, o tempo tão raro tem passado aos nossos olhos e nós viramos meros telespectadores, é comum ouvirmos: “Esse ano passou rápido né?” Na verdade devemos nos questionar e quiça nos preocupar por isso, por onde anda o encontro? Não só com os outros, mas consigo. Estamos em diversos lugares, sem realmente estar, no trabalho querendo estar em casa, em casa querendo estar na rua, na rua querendo estar em casa, mas afinal onde queremos chegar?
Lewis Carroll em Alice no País das Maravilhas nos confronta com uma maravilhosa questão, que hoje nos cabe tão bem:
“Gatinho de Cheshire poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar para ir embora daqui?
– Isso depende muito de para onde queres ir – responde o Gato.
– Para mim, acho que tanto faz… – disse a menina.
Nesse caso, qualquer caminho serve – afirmou o Gato.”
Qualquer caminho serve para quem não sabe para onde quer chegar. Eis que por vezes nos vemos perdidos, e dependentes mais e mais da tecnologia, para aprendermos, para extravasar, o que demasiado pode tornar-se sim patológico, dependente como uma droga que te dá prazer, que serve de fuga da realidade, mas com consequências como ansiedade, insônia, dificuldade em concentrar-se em algo, fugindo do termo deficit de atenção, uma superficialidade cognitiva adquirida.
Daí para alguns a angústia, posto que estamos sem estar, também acabam assim estando conosco sem estar. Estamos conectados a tantos sem uma real conexão, diria eu como sabores artificiais, saboreamos artificialmente a vida, pois em meio a milhares de amigos nas redes sociais, qual será o que realmente além de “tecer” uma conversa virtual tece fio a fio uma sólida relação afetuosa? Não é possível “confiar” como diz um professor que muito considero, é possível, “fiar com”, invertemos a palavra para entender que podemos fiar caminhos, conversas, novos possíveis, se realmente aproveitarmos o encontro.