TÁGIDE
 
 
Os lábios entoam os zéfiros idílicos,
Como a canção ruflosa dos ermos passados,
Um beijo afável, a máxima prestante!
Que em mim, lumia a escuridão…
 
Parco em delírios pérfidos,
Cuja as vozes pervias
Sussurram meus desejos,
Em que a sibila que vejo
 
Profetiza este beijo,
Prostrando minh’alma
Na calma do Tejo,
Afagando-me a palma,
 
Afogando-me em resto,
Enrubescendo-lhe o rosto,
Enlaguescendo-me o gosto;
Lúgubre sonho de Hefesto…
 
Eia Tágide embevecida
Sendo fonte fenecida…
Sedenta, Salaz, intumescida!
Pungente, ao corpo olente…
 
O púbis arado marejante,
Dentre aragem débil,
Rente a paisagem febril,
Frenesi gotejante…
 
Vai-se oh Yara sem pejo!
Doce amavio do Tejo,
Salácia nas liras em que adejas,
Acácia à pelve lisa que beijas.
 
Entoam os zéfiros idílicos, os lábios!
Ruflosa canção ofegante,
Um beijo arfável, a máxima d’instante,
Que em nós, rutila toda a paixão!
 
(Anderson Delano Ribeiro – 10/08/2005)
 
*Tágide: Ninfa do Tejo idealizada por Camões
 
 
(Foto por Tommy Ellis – CreativeCommons)