QUIÁLTERA
 
Qual o preço da poesia? Perguntou-me uma Dona em minha porta,
Quanto custa o pão do verso? Surpreso, sorri, mas sem resposta contive-me,
Pois não há gratuidade em perecer… o riso pesou-se em gramas,
 
Eis que: Qual o peso da poesia? Pesa feito grão? Pesa feito grama?
De leve, e algodão só o meu bolso sem cigarro e sem grana…
Senhorinha meus versos são sementes e dou-te um pra ver se vinga,
 
Se não vingar, não se zangue nem vingue-se de mim,
Há que o verso é minha agua, meu ópio, minha pinga!
O fumo que não fede, o álcool que não esteriliza. Ferida perfumada.
 
— Achei que seu tema zafimeiro de plêiade soliloquista
Fosse um furdunço de fundir a cuca!
Esbravejou a Dona em minha porta.
 
— Eia buscar pra plantar em meu Relicário,
Que esse seu poema combina com uns Sonhos em meu armário.
O preço do livro é o livramento, de quem escreve e de quem percebe.
 
— Queria a riqueza das vagas quimeras de meras dores do mar,
Com certa franqueza queria uma fortuna de doutor,
Mas com os pés desrecalcados pelas quiálteras da planície.
 
A Senhora de pele rugosa com riso lúbrico de quem conseguira satisfeita
disse: — Vou-me agora, posto ha certas horas que o incerto nos atinge.
Sem entender a narrativa estranha, questionei-lhe: — Quem sois Senhora?
 
— Não sou dessas que finge, por mais que digam de mim, sou senhora e menina,
E por mais que insistam, estou longe do fim, Vim visitar-te poeta que sabeis tu,
Não há linha reta pra mim… Sou curva incerta, que as vezes bate a porta, sou a VIDA.
 
(Anderson Delano Ribeiro)
 
 
(Foto original por Du R Maciel – CreativeCommons)