Eram 2:30 da manhã, de uma quinta qualquer, poderia ser hoje, ou amanhã, ou quando der, como sempre o silêncio me fala absurdos que gosto de ouvir a noite, hora me comovem, hora me movem a ser rio para de manhã ser pedra… Somos feitos de carne mas temos que viver como se fossemos de ferro, já dizia Freud…
 
São cobranças de normalidade, cobranças de felicidade e sempre estamos em débito mas é preciso aparentar calma… A Alma grita, chora, por ser alma, mas ninguém tem mais tempo para nossos próprios traumas… Quando deixei de ser saudade, deixei de ser útil, meus dizeres por mais verdadeiros tornaram-se inúteis, quão essas laudas vazias preenchidas de mim…
 
Mas… Precisamos ser realmente úteis? Ou precisamos ser apenas amados e amar? Posto que o amor move! Perdoem a indecência de quem desnuda-se a falar de Amor a essa hora, mas é que acredito nos afetos diários, e na cura pela fala, onde o silêncio é um despejo de insinuações. E a ausência é só ausência quando não cabem saudades, a falta do outro que ainda vive em mim, pois o outro tatuou-se em minhalma, e posso percebe-lo no cheiro das flores preferidas, nas cores que se assemelham a sua tez quando sorri, ou mesmo no biscoito de nata que a padaria vende e minha vô fazia melhor, tinham afetos em suas mãos… Tem saudades em mim!
 
Tem pessoas que guardamos com cuidado na caixinha de eternidades da alma, e lá deixamos, mas por vezes escapolem de um mundo inconsciente e obscuro para clareza dos nossos olhos. A vô sempre estará no Natal, nos biscoitos de nata, quão nossos amores, ainda que sigam suas vidas estarão tatuados no íntimo do riso dado e do sonho devotado, jamais derrotado! Pois mesmo que termine, ambos sairão mudados. São significantes da nossa descoberta diária de nós. A canção, o sabor, o perfume, as cores, despertarão sempre a réstia feliz de outrora, ou a lembrança do que não foi vivido, mas nos lapidou o olhar, mudou quem sou, pra onde vou…
 
Mas e quando deixamos de ser Saudade? Quando o afeto é menor que a precisão, e devoção não basta sequer para ficar, deixemos partir, ainda partidos pela dor da saudade que ficou, mas que não foi com o outro, ou está perdida na bagunça da caixinha de eternidades, quem sabe? Maturidade é despedir-se e agradecer, para poder voltar sem deixar a casa suja para o próximo verão. Mas nem sempre dá tempo. Deixar de ser saudade dói, mas não mata completamente, mesmo que outro tente matar o pedaço de nós, sinto dizer que é indeletável! Mas quem sabe o que o outro sente? O laço se deslaça por descuido ou porque deixou de ser prioridade, virou adorno e hoje é mero detalhe. Deixemos ir… E se deixei de ser saudade, que fique em ti o melhor de mim. Guardemos em nós o melhor de nós.